E foi assim que conheci parte das estrelas, aquelas que cintilavam na sua fronte, qual diadema de pedrarias das mil e uma noites dos contos famosos. Conheci sua vertigem quando pus as mãos nas suas e palpitavam seus dedos, calor que eletrizava contatos, poros efêmeros. Não contei para ninguém que meus cabelos se levantaram, coisas de bruxa, dizia eu para mim mesmo. Você dava risada, nada disso, coisas de mulher.
As estrelas mudaram de lugar quatro vezes, constelações se transformaram nos solstícios e equinócios. Pude ver Escorpião misturado com Aquário e eu me transformei em mero reflexo da poeira que preenche o vazio do Cosmos. Oh, Deus das alturas, porque tremo tanto, porque falha minha voz ao ver seus olhos luminosos, porque as musas se concentram em uma só? Você, de novo, mexia em meus cabelos ralos, risada gostosa, menino, coisas de paixão.
Colchas tormentosas em volúpias de tempestades, revoltas ondas de primavera, voragem veloz nas falas de Eros, o Deus que expele flechas certeiras, sábio Deus das profundas condições da alma humana. Sábio e matreiro Deus, que fere o calcanhar de Aquiles do Homem, desde sua ancestralidade. Oh, Deus das alturas, por qual razão me multiplico em onze, só para me perder em quatro e me tornar em dois no ápice da loucura? Você diz, entre os dentes mais lindos que vi, bobo, nada disso, coisas de tesão.
Hoje o dois se transforma em três e quatro, partindo do Um fundamental. Obra de espíritos? Você, saciada, diz, ao suspirar de sono envolta na escuridão que nos aquece:
--Nada, menino. Coisas do Coração. |