O que será o tempo, esse fluido viscoso que nos leva a rodo? Dizem uns que se adensa próximo de estrelas, dizem outros que se rarefaz quando se está feliz. Tudo quanto é felicidade passa num tempo, noutro se passa quando nuvens cinzentas se fazem no horizonte. Também se faz lento o tempo da espera, que pode ser adiado (nos corredores dos porões policiais) ou pode ser pavoroso (no pouco que lhe resta de um fim inadiável). Eu me pergunto, será o tempo uma convenção inventada pelo homem ou pulsará ele independente, quer de si ou dos outros e talvez da própria esfera do cognoscível, uma vez que no Abismo se passa o tempo sob suas próprias linhas e convenções, sem tempo reformado ou colocado em pacotes de consumo? O que será da hora que passa rápida sob prece ou sublime no amor infinito, e do segundo que traz o ar e o respiro ao bebê que nasce para a luz da vida? Será que é triste a última hora de um homem que caminha ao cadafalso, será que brotam lágrimas de dor nos momentos de um prolongado paro, saberá da hora o mergulhador que vai ao fundo de sua alma ou do existencialista que supõe existir só o pensamento, sem hora marcada?