
Quantos mistérios trazem o tempo...
E o vento que sopra a folha seca no chão
Quantos segredos, quantas histórias chegam
E se vão numa folha soprada pelo vento...
Grande número de parentes, amigos e curiosos ocupavam os aeroportos do Rio de Janeiro, de Dakar e França. Eles esperavam por informação da existência de sobreviventes. Todos queriam saber quantos, e quais. O nome de Fernão de Noronha Capelo constou da lista de passageiros,não necessariamente, da lista oficial dos mortos, mas da lista de desaparecidos.
A Marinha Brasileira recolheu corpos em águas internacionais e entre os mortos foram identificados Vannini Saboia Capelo e o comandante Hemor Bar-Hemor de Siquém. Os demais passageiros e tripulantes permaneciam desaparecidos ou não identificados. Paola sorriu outra vez no intervalo da dor. Sorriu feliz olhando um pássaro azul no céu acinzentado e uma árvore roxeada de frio. O salão do Livro de Paris estava escuro. Homens com semblantes austeros, e mulheres chorosas paravam no passeio. A alma-menina lia o cartaz afixado na porta junto a uma faixa de luto com a lista de escritores mortos no voo Skylab. Estava gravado entre tantos nomes, o nome dela, Paola Rhoden e o poema “Passeio sem rumo”. Agora ela podia viajar para qualquer parte do mundo, em fração de segundos, e se quisesse, podia estar em vários lugares ao mesmo tempo. Então foi para Dakar e viu sem ser vista, muitos chorando a morte dela. Viu as freiras de sua congregação tentando consolar os aflitos. Esperavam a irmã Paola, choravam por ela e ela estava ali e ninguém a via. Enlutada, a natureza árida e fria, habita o coração pacífico de tantos poetas, dizia André Albuquerque, passando as vistas na faixa. “Quantos sonhos, quantos voos literários foram interrompidos!” E pegou asas de luz, voou ao Recife para consolar os parentes. Tentou conversar com Paulo Valença, falar das últimas produções depositadas no Portal Literal. Paulo não o ouvia, não respondia nem mesmo aos acenos de mão. (Parecia choroso). André ouvia os choros, aparava as lágrimas da esposa e enxugava o rosto dela com o guardanapo da Viação Aérea Skylab.
Talita ouviu a notícia de desaparecimento do Airbus Skylab que saiu do Rio de Janeiro com destino à França. Desmaiou e sentiu-se arrebatada, levada em espírito a uma praia recoberta de ossos ressequidos. Alguns corpos, parcialmente envoltos em vestes que se puíam com o passar dos anos.“Não temas!” — Disse a voz que vem do alto —“O mar devolverá à praia todos os corpos que engoliu e a terra prestará contas dos mortos guardados em suas entranhas”. Alguém tentou acordá-la dando tapinhas nas faces e ela despertou como se voltasse de um pesadelo.
— Saiu a lista oficial de passageiros do voo ABS 815?
—Sim, a lista de mortos e de desaparecidos.
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