O tempo de hoje tem a duração dos tempos comprimidos; Não é à toa que quando chegamos a um lugar mais interiorano, mais deserto, até as nuvens passam mais devagar. Isso porque o tempo que nos resta é pouco e à medida que passa, ele vira pó de ouro. E em nosso caso, o dos ditos "civilizados", ele se encontra condensado em pacotes valiosos, tomados ao nosso fragor interno como vestígios de nossas mais profundas convicções e crenças e passa a ser amealhado como uma mercadoria, um bem a ser dividido em menores frações ainda, que por sua vez se encontram penhoradas em nossas mais tenras raízes, pois que, ao nascer, já o temos definido. Uns mais, outros menos, todos o têm contado. E estas gotas de ouro líquido porejam pela vida em absurdos minutos tensos, da primeiro riso ao último esgar de choro ou medo. Ah, eu o queria de volta, infinitamente, como se a um só tempo voltassem a mim as passadas alegrias e as mais absurdas melodias que ouvi; não me importo se enlouqueceria de novo, nem se todas as águas do mundo me submergissem num dilúvio antepassado, não me importa nada, só queria que voltassem aqueles minutos que passei, sem nenhuma vergonha ou receio, ao lado de quem realmente me fêz feliz. Ah, feliz. E os pacotes que temos não nos permitem essa reflexão, porque apressados estamos sempre, tolhidos pela falta dele, ameaçados por uma velocidade que sempre aumenta aos poucos e quando se vê, já está na hora de.
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