O medo de ser um simulacro, um avatar de mim mesmo, uma obscura matéria de uma idade que já se passara me obsidiava a essa época. Cansei de ouvir que eu era mais que um "cumpra-se", na verdade era um " espere-se", "controle-se", vire-se. Ora bolas, que adiantaram as noites insones, as outras passadas em branco, mais algumas queimando pestanas, mais outras tantas pensando em você?
Nada.
Pensei depois que o Abismo me seduzia e me comprazia imaginando métodos infalíveis e indolores que quedar-me a ele, sem qualquer tipo de contemplação. Vi-me, então, saltando de alturas inconcebíveis, mergulhando em abissais fossas marítimas, desnudando meu corpo em fornalhas estelares ou, no vácuo perfeito, contemplando o planeta de Gagárin, azul, esmaecendo lenta e incansavelmente.
O que eu ganhei com isso?
O Vazio, o Desprezo, a Angústia, o Medo e a Solidão.
Passei por todos estes caminhos indescritíveis, ouvi as vozes que me remetiam a mim mesmo, em sussurros inauditos; pensei, mesmo, na grandeza da finitude e na imensidão, no Infinito.
Sabe o que me veio à boca, agora, neste momento, nesta manhã de Fevereiro, dia oito?
Danem-se.
O mundo está por sua conta; não pretendo mover uma palha, não quero nem ouso mexer um músculo para salvar o que resta para que vocês não chafurdem feito porcos no próprio meretrício que criaram.
Sou mais eu, agora.
Que me venha a luz que decaiu de cima e pousou sobre a terra arrasada que vocês mesmos decretaram; Todo o conhecimento, enfim, não passa dos livros que vocês garatujaram um dia, achando que com isto, eternizariam suas fontes. Qual! Não passam de rascunhos do que ele, o outro, ainda tem nas mãos.
Querem continuar seu caminho? Vão, enfrentem-no.
Sabem das conseqüências dele e dos outros que se avizinham.
Querem saber meu nome?