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cronicas-->Reencontro -- 26/05/2015 - 18:29 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Mundo pequeno, este. Fui até a esquina, logo ali atrás do prédio; não é que havia uma pessoa passando ali que reconheci de imediato? O camarada estava ali, baixinho, ou como dizem os literatos, " nem tão alto como parecia nem tão baixo como deveria" ou ainda, "apesar de sua baixa estatura, via-se que sua luz interior brilhava" ou algo do gênero.

Portava uma barba agora encanecida, pois que antes fora mais tinta de melanina; o passar do tempo esgota tudo, meus caros amigos. E eis que, assim num átimo, encontro o tal indivíduo de pequena compleição mas de braços fortes.

--Mundo vasto!
--Nem tão grande que não se possa encontrar alguém.
--Barba branquinha hein?
--Eu sou você amanhã, lembra-se?
--Precisava lembrar disso?
--O que não mata engorda. Posso me considerar um seu sobrevivente.
--O tempo além de lhe encanecer a barba lhe trouxe mais esperteza?

Cofiando a coleção de pelos anuviados pela luz cinza da tarde quase fria, raciocinei e emiti um parecer:

--Nada a declarar.

Nisso, os dois olham na mesma direção; lá vem um pequeno grande homem.

--Isso aqui é uma coleção de baixotes?
--Concentração, eu diria; conheço uma que foi campeã mundial de futebol há quatro anos.
--Nem me fale! Depois de um ano fatídico como o anterior...
--Não quero nem saber. Siete a uno!

Lá vem o tal rapaz, vestindo uma inacreditável calça boca-de-sino; os cabelos ainda são meio cacheados e lhe batem nos ombros. Tem os braços mais fortes ainda e carrega um livro nas mãos. Ergue os olhos e vê...

--Olá!
--Hey, pequeno.
--Não dê atenção a ele.
--Vocês não são nada...grandes.

O mais velho olha para o mais novo e os dois olham para o adolescente vestido a caráter para uma festa de anos há muito passados.

--Aonde pensa que vai?
--Como assim?
--Essas...calças.
--Última moda!
--Só se for na sua casa.

O baixinho novato, além de tudo, é invocado.

--Que é que tem a minha casa?
--Ele não se explicou, filho. Ele quer dizer que está meio fora de tom...
--É, é. Está fora de moda, a calça e tudo o mais.

O novato de calças demodées dá uma olhada em torno.
Coça a cabeça e a barba incipiente, como o fazem o barbudo mais velho e o menos moço. Depois de muito pensar, o que cansa sobremaneira os outros dois, diz:

--Estranho, poderia jurar que...

Daí, passa a moça. Ela olha os três de uma mirada só; sua beleza transcende o tempo de todas as suas vidas. Ela está lá, naquela presença que faz acordar até o galho seco da árvore mais empedernida, aquela que ressecada e mal-humorada, lhe derruba um galho na testa se o vento lhe favorece. Ela olha o pequeno e sorri, com aquela fileira de dentes que desafia toda composição de Mahler, Beethoven ou Bach. Bendita a presença de vosso sorriso, querida, amém. E seu perfume? Enrola em vossas narinas todas, em promessas inauditas que perpassam as imaginações mais jovens, mais maduras e recolhidas.

Os três perplexos a vêem passar, e estendem as mãos. E ela:

--Que é? Nunca viram não? Eu hein! Cada uma!

E atravessa a rua cheia de carros, não sem antes brindar os seis olhos com um sorriso maroto.

--Definitivamente, hoje o dia está diferente!
--Quem vem lá, agora?
--Fale baixo, menino, que ele pode ouvir...

Caminhando devagar no canto da calçada, vem um velhinho, alquebrado. Tem um andar assim meio torto e desamparado, de tal maneira que desperta a curiosidade do mais novo, a compreensão do mais velho e até o altruísmo do mais velho deles. Ele passa em lento compasso, ao som da música que brota de uma certa janela de um andar desconhecido, num prédio que se assemelha ao destino. Ao seu olhar atento, o alentado em anos proclama:

--Ó Vós, que olhastes tanto, não vos esqueçais do encanto que carrega a alma daquela que tanto amastes!
--Fala complicado, vovô.
--Moleque, respeite os mais velhos!
--Falou pouco, mas falou bem.

O moleque, como todo baixinho invocado, dá de ombros:

--Quem é moleque?

Os quatro se olham. Os quatro se tocam. Os quatro se unem.

 

Mundo pequeno, este.

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