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cronicas-->MEU VELHO PARTIU... E AGORA? -- 01/08/2015 - 16:52 (Orival Tadeu Lopes da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEU VELHO PARTIU... E AGORA?

No dia 14.09.2010, após solicitar um abono, cheguei cedo ao HU (Hospital Universitário) para troca de plantão. Minha filha Elaine havia ficado com meu velho, internando na noite anterior. E ela o cuidava com tanto carinho, que meu pai a chamou de sua segunda mãe. Como meu pai estava dormindo, não quis acordá-lo e fui levar minha filha em casa...
Retorno logo e encontro a médica e a enfermeira de plantão trocando o soro e aplicando nebulização (um resfriado com secreção no peito tinha sido o motivo da internação). Cumprimenta-nos. Em seguida trazem uma tigela com mingau e, como fazia nas últimas manhãs, ajudo-o a comer com uma pequena colher. Fiquei feliz, pois ele consegue comer tudo...
No dia primeiro de agosto meu pai havia feito 96 anos e apesar de uma pequena surdez, da dificuldade de andar e alguns outros problemas surgidos recentemente, devido sua longevidade, ele estava bem. Aliás, para meu velho tudo estava bem, mesmo quando não estava...
Após servir o mingau, pediu-me para ajudar ele para ficar deitado de costas e disse que queria dormir um pouco. Disse-lhe que podia dormir e que estaria ali ao seu lado. Assim, transcorreu mais algum tempo (meia hora talvez). Até que ele começou a balançar a cabeça, sem nada dizer. Busco atendimento e o pessoal do HU vem em seguida. Colocam um "prendedor" no seu dedo (mais tarde descobri que se chamava oxímetro) e vejo o desespero nos olhos deles. A média solicita um tubo e um balão de oxigênio e começam um trabalho de vida ou de morte.
Fico tenso, apavorado, que nem encontrar a manivela do leito que eles pediram-me para abaixar. Vejo meu velho pálido, quase sem respiração...
Felizmente, após alguns segundos, vejo a palidez afastar-se do seu rosto. Vejo-o voltar a respirar. Creio que o problema passou. Será?
Converso com a médica e ela comunica-me que os exames indicaram pneumonia, mas que o tratamento já está sendo feito. Retiram o tubo de oxigênio e dizem que ele irá melhorar. Fico mais calmo, mas nem tanto.
Assim que eles saem, passo a mão na cabeça do meu velho. Ele abre um pouco os olhos, mas nada fala. Pego em uma de suas mãos e, embora sem muita força, ele corresponde o aperto. Como fecha os olhos, pergunto-lhe perto do seu ouvido se está bem. Ele balança levemente a cabeça, confirmando. Diz somente, com pouca clareza, que quer dormir um pouco mais. Sento então na cadeira e fico olhando-o. Observo-o bastante quieto, mas respirando, embora com pouca força...
E, como se fosse num filme, vejo várias cenas passando. Vejo seu árduo trabalho de agricultor; vejo a preocupação dele (e da minha falecida mãe) em ajudar-me para estudar; vejo sua fé (rezando vários "terços" pelas pessoas e pela solução dos problemas da humanidade). Vejo, principalmente, seu grande exemplo de pai.
E assim os minutos passam. Não sei quantos, vinte, trinta, não sei... Sei apenas que percebo sua respiração diminuir. Levanto-me depressa e vou à sala da equipe de plantão que fica ao lado do seu quarto. Eles vêm de imediato.
Colocam novamente o tubo de oxigênio. Observo os grandes esforços que fazem. Olho apavorado nos olhos da médica. Pergunto se não pode ser feita uma massagem no seu peito. Ela balança a cabeça negativamente e diz que isso não resolverá o problema. Irá apenas machucá-lo e retardar sua partida em alguns minutos. Amparado pela enfermeira, sento-me na cadeira e não consigo me controlar. As lágrimas rolam no meu rosto.
Trazem um comprimido e ele parece me dar forças. Tiram o balão, mas o tubo de oxigênio permanece. Meu velho está pálido, mas, embora bem fracamente, ainda respira. Levanto-me, coloco uma mão em sua testa e outra em suas mãos e assim fico. Não sei quanto tempo... dois, três minutos, talvez mais...
Sei apenas que a respiração do meu velho vai se tornando mais fraca. Sua respiração diminui gradativamente, lentamente...
E eu ali estático, como se estivesse flutuando no ar...
Ele parece tranquilo (como sempre foi). Meus olhos procuram vê-lo respirar...
Olho para a médica e com lágrimas nos olhos, ela me diz que eu preciso ser forte... Olho novamente no meu velho e não vejo nenhum sinal de respiração. Vejo a médica aproximar-se dele e com a "lanterninha" olhar nos seus olhos. Vejo-os totalmente parados...
Presencio a médica fechando suas pálpebras. Vejo-a colocar o "aparelho" no seu coração, escutar e, em seguida, colocar suas mãos nos meus ombros...
Para meu desespero, ouço-a dizer-me baixinho que o coração do meu velho havia parado...
Novamente o pranto rola no meu rosto. Ajudam-me a sentar na cadeira e eu choro. Choro soluçado, como nunca havia chorado. Meu velho, meu querido pai que eu tanto amo, acaba de partir... É duro! É muito dolorido vivenciar a morte de um pai...
Meu velho partiu... E agora?
Agora, é hora de buscar forças para superar a dor e a saudade de tão grande perda...
Agora, é hora de agradecer os meus filhos pelo carinho e atenção que deram ao vó...
Agora, é hora de agradecer aos amigos pelas ligações e mensagens enviadas e, em especial, ao pessoal da minha dependência pelo envio da bela coroa de flores...
Agora, é hora de agradecer ao Deus por ter tido tão grande pai. Um pai amigo; um pai verdadeiro que somente transmitiu bons exemplos...
Agora, é hora de refletirmos sobre a importància de darmos carinho e atenção aos nossos familiares e amigos...
Agora, é hora de vivermos com alegria o momento presente junto aos nossos entes queridos, pois talvez amanhã eles não estejam mais conosco ou talvez amanhã a gente não esteja nesta vida para fazer isso...
Orival Tadeu Lopes da Silva
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