Nove horas da noite. Um piado de um pássaro obscuro me chama a atenção; dizem os amazoninos que quando ele pia na porta da casa de alguém, babaus ! Esse já pode encomendar a alma e negociar o preço do paletó de madeira. Há pássaros e pássaros, mas os de Hitchcock com certeza mais incomodam; agora, um piado que já me anuncia tão precoce finitude, nem em filme dele aparece. Isso com certeza.
O pássaro se chama Alma de Gato.
--Mas, espera aí, meu amigo! Um pássaro com Alma de Gato pia e o curioso morre assim de repente?
--É o que dizem.
--Vou lhe contar uma coisa.
--Eu vou é comprar um monte de canários da terra!
--Engaiolados?
--Não! Compro e solto perto do tal Miado de Gato.
--Não entendi. Você vai soltar um monte de canário na terra perto de um gato que mia?
Nove horas da noite. O que se tem de aturar... O indivíduo em questão pensa que pensa que pensa que eu não sei, mas ele só pensa; eu é que sei!
--Se oriente! Vou comprar canários da Terra, soltar lá na porta de casa para o pássaro sinistro não piar nem de perto!
--Meu caro criador de passaredo! Você quer acreditar que se pode afastar assim a Ceifeira de perto? Quer me fazer acreditar que a Indesejada não se aproxime da tal residência por força e ritmo de outros cantos de outras aves?
--...É a ideia. Bate na madeira e larga este celular maldito.
--...Hein?
Nove horas da noite: O camarada fica flutuando num mar quàntico de incertezas e beatitudes, teclando feito um doido de tal forma que parece ter quatro polegares e doze dedos ao invés de onze. Quer ele prestar atenção ao geral, mas não consegue nem realizar o particular. Daí, essa confusão quase que bisonha em que se vive: Uma palavra pode significar uma revolução, um estouro pode parecer um flato e um beijo pode deixar de ser uma verdade para que se aproxime de uma mordida. Miado de gato, Moreira?
--Moreira! Tem um Pássaro pendurado na sua cabeleira.
--Querendo me tirar, mano?
--Não, mas a moça ali atrás quer falar contigo e ela é magrinha, magrinha.