Imaginem vocês um Cosmo. Nesse Cosmo, planetas que ainda nem nasceram tentam ser "iguais" ao nosso; isto é, no sentido do melhor que há em nosso pequeno ponto azul na imensidão do Silêncio Eterno que , mudo, contempla todas as nossas impaciências, nossos temores, carros que abrigam amores e mortes, imensos vórtices de vento que se formam e as grandes línguas de fogo que ameaçam bichos, flores, tribos e amores vãos.
Imaginem ainda um Deus. É, Deus, Deus mesmo, pombas, imaginem um ser grande o suficiente para abarcar o nosso antigo mundo e os outros que querem nascer e ainda se projetam nas cavernas do zero absoluto. Imaginem um Ser que se pensa a si próprio e que paira sobre as águas e olha de onde se olha do Infinito, de todo o Abismo, das Nuvens de Magalhães e , entre outras coisas, se cura da inexistência e da solidão do fim em si mesmo.
Imaginem vocês um Cosmo. Nesse Cosmo, gira sem fim uma nuvem de estrelas, povoada de mundos nascidos, jovens, cheios de águas claras, baleias , florestas virgens, fogueiras prometeicas, gira na vastidão das galáxias; pensem no que poderiam ter sido se não fossem nossas balelas, nosso desrespeito, a exploração imperfeita, matadora, zombeteira, cega e incompetente: Cegamos o Olho de Deus, que já não se olha em nosso pensamento, esse que devia ser nosso maior dom, nossa principal jóia!
Pois bem, olhem de longe e imaginem a velocidade se precipitando, as idades se somando à s Idades do Universo, nos pulsares, nos mistérios do tempo reverso, dos milenares eventos que antecederam nossa história. Vejam o olho do furacão tocando a Terra, torcendo árvores como um punho de inominável horror. Olhem, mas não, não desviem o olhar! Sim, porque de tudo se olha um pouco, deste louco precipício que se tornou o mundo: Uns se eliminando aos outros, guerras frias, quentes, sangrentas, eternas guerras, medonhas! Não desvie o olhar, símio dantesco. Não!
Também não pense, nessa sua enorme tentação de se enamorar que tem de suas obras, tentar igualar as suas à s Dele, que olha de lá de onde se olha o Infinito que se basta a si mesmo. Não! Contemple tudo o que fez, símio profanador. Deixe de ouvir os sons da floresta de onde se destacou sua presença. Deixe de olhar as estrelas de onde Ele olha; vamos, é fácil! Ele não existe mesmo! Foi você que o disse, você que o dessacralizou; você falou que ele viria sobre as águas, agora diz que Ele nunca existiu e que tudo é produto de um caos que você, você mesmo, cometeu.
Antes não tivesse descido das árvores! Se é verdade que existiu a fruta do conhecimento, certamente não a devia ter provado. Não, contemple minhas palavras, ou tente dizer que assim não foi, profanador! Agora, tente aparar as velocidades que tocam os olhos das águas da Terra; tente sorrir, amar, esquecer que um dia este planeta foi lindo. Outros nascerão, talvez iguais ao seu e seu balido ou o choro que se erguerá de seus filhos um dia se fará silêncio de novo.
Aí, sim, aí o tal Deus Desconhecido correrá sobre águas novas e impolutas, prenhes de Verbo e Verdade, e, pacificado(pois que a tempo arrependido) apontará, separará e dirá: