Resfriado dos diabos. Não bastava o mosquito mais danado do mundo, o que parece um tigre vestido com pele de pernilongo, agora me vem essa. Suadouro, dores ósseas, mal-estar e catadupas escorrendo de dois orifícios que mais parecem Furnas em sua abundância. Tenho pensado, eu não preciso economizar água. Eu mesmo me basto. Tenho de arrumar um jeito de canalizar estes dois córregos e reutilizar minhas águas pessoais para fins de geração de energia em benefício próprio. Garanto ...que pago minhas contas com a mucilagem produzida. Impressionante!
Eis que finalmente me rendo às evidências: Melhor ir à farmácia, comprar um medicamento que pelo menos combata estes sintomas; algo que estanque este lago dos horrores e com estes espirros que, se repetidos ao infinito, ecoam além das esferas de nossos céus de cristal. Lá vou eu, tonto de tantos espirros e um automóvel movido a álcool e cretinice quase me apanha no meio-fio.
--Acorda, porra. Porra, vai caminhar na calçada, porra.
Notem a quantidade de porra que sai da boca deste bem educado cidadão. Tento replicar:
--...Atchiiiiimmmmmmmm!
A vingança é uma fera e um prato que se come frio. Não sei se ele terá coragem para retirar a verdadeira camada grudenta que se ajuntou ao seu para-brisa traseiro. Portanto não sei exatamente se ele comerá ostras daqui para a frente.
--Putaqueopariu!
--Obrigado.
Depois do quase incidente internacional (o carro pustuloso é importado), chego à farmácia. As moças, acostumadas ao público, ao verem meu nariz vermelho, meus olhos injetados e minha copiosa secreção, já me dirigem ao balcão.
--Gripe, senhor?
--Ah, ligeira. Sinto-me moído como se um trator houvesse passado sobre minha coluna vertebral, se é que restou alguma. Mas leve! Levíssima!
--Temos então...
E começa a exibição tal qual fosse um show, medicamentos que vasodilatam, outros que contraem, mais alguns que bloqueiam os vírus ( caríssimos), outros que secam a secreção, mais alguns que combatem a febre e outros que tratam a sonolência, a alergia e a voz fanha.
Sou adepto, pelo menos nisto, aos medicamentos de origem natural.
--Ah, nada disto, menina. Vocês têm Própolis?
Silêncio no ambiente. Zumbe a filmadora, que parece voltar-se para mim, as duas caixas ficam sérias e as três mocinhas, em coro uníssono, dizem, num coral bem afinado:
--Não vai ter Própolis!
--Não vai ter Própolis!!!
--NÃO VAI TER PRÓPOLEEEEEEEE...NÃO VAI TER PRÓPOLEEEEEEE...
Sai a moça que aplica injeção, a seringa gigante nas mãos, aponta em minha direção, só que não...
--Está bem! Está bem!!!
Enfim, não vai ter própolis! Vai de canja de galinha que, como dizia minha avó, cura de tudo.
Sobrou para a galinha.