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cronicas-->A Besta -- 07/08/2016 - 20:30 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Os três amigos resolveram se encontrar num bar, perto da rua Toneleros, onde há muito se ouvia falar que fora palco de uma verdadeira batalha campal entre partidários de um governo omisso e outros que queriam um governo mais forte embora repressor. Os três combinaram de chegar às oito. Haviam se formado em diferentes áreas, porém mantiveram seus interesses próximos.
O mais velho era médico; o nem tão velho era engenheiro e o mais jovem deles (portanto o Nanico, como eles carinhosamente o apelidaram) era advogado. O local onde eles iriam se encontrar era um agradável recinto, onde as mesas se espalhavam de maneira agradável, nem muito próximas, nem suficientemente distantes. Cada mesa tinha seus lugares marcados com antecedência; obviamente que a exatidão do Chato, o engenheiro, não os deixara na mão.

Encontraram-se à entrada quase pontualmente, porque o Muro (o médico) acabara suas consultas quase àquela hora. Nanico indicou os lugares, Muro o acompanhou e Chato fechou o grupo, com suas piscadelas habituais. Cheio de manias o Chato. Todos se olharam nos olhos e descobriram que a Alma nunca envelhece, muito embora o corpo nunca obedeça esta ordem do firmamento; A alma e o corpo se desencontram, ora esta, mas nossos amigos sempre estão juntos, seja o que for.
Na tela gigantesca, ouvem-se acordes do Hino Nacional, esta música que toca sempre o coração da gente, nas cerimônias que todos sabem ser necessárias embora insuficientes. Bocas tartamudeiam as difíceis rimas, entre outras mil. Chato balança a cabeça.

--Que foi?
--Tanta gente passando fome...
--Deixa de bobagem. Nesta hora, tem de mostrar mesmo o que se tem.
--...E quando não se tem nada?

Nanico sabe que ali começa uma discussão. Eleva a voz e corta o papo:

--Garção!
--O quê?
--Não acredito.

Vem o garçom.

--Quais cervejas você tem?
--Temos Bock, Pilsen, temos americanas...uma holandesinha que vou lhe contar...
--Tem da nossa pátria?
--Tem. Cremer. Muito sem gosto e quase sem sal.
--Vai esta mesmo. É o que temos para hoje. E vocês? Já vão discutir?

Muro e Chato se entreolham. Concordam e passam a conversar de amenidades, como todo papo médio de amigos regados a Cremer tem de ser.

--Contem-me as novidades!
--Começo eu!
“Estava eu em meu plantão, discutindo os casos com os alunos, quando um senhor me apontou: O Senhor é o Doutor Muro! Eu, sem jeito, lhe confessei a identidade que eu não tinha ideia de onde ele soubera. Não ando de nome grudado à testa, de modo que ele devia me conhecer de outras eras. Ele então me chamou de lado e disse que tinha algo em particular para me falar.
‘--Doutor, eu tenho algo a lhe pedir...
--Se eu puder lhe ajudar...
--Eu queria, sabe, usar aquilo que a gente usa com as mulheres...
--Carro...!
--Não...como é o nome...
--Cartão de crédito...!
--Imagine! A patroa nem que saiba disso! Sabe, aquilo que se chama...
--...Bingulim?
--Tirou-me da boca a palavra, caro doutor. Pois é, tenho nova namorada e preciso de uma receita de um remédio para que ele esteja apto a exercer sua atividade-fim...’

“Olhei as referências: oitenta e seis anos, diabético, cardíaco e ainda assim, vivo em sua maior acepção...”

--...E você deu o tal remédio?
--Vou privar vocês de minha decisão...
--Ah, seu chato.
--Nanico, passa a Cremer.
--Sem sal essa cerveja. Muito sem gosto!
--Vai, passa, passa. E você, Nanico? Tem novas histórias?

“ Vocês sabem, eu sou advogado da vara da família. Outro dia, eu atendi um camarada que queria que eu defendesse a mulher dele contra ele mesmo, pois se dizia um perdulário: A mulher no dia em que casaram exigiu que ele deixasse o controle dos dezessete cartões de crédito dele com ela. A sua esposa saneou as finanças dele, regularizou suas pendências e ainda, de quebra, com o dinheiro que ele ganhava investiu em ações que lhe renderam enorme lucro. No entanto, o camarada tem compulsão por gastar em inutilidades. ”

--‘Doutor, acredite ou não, comprei uma besta.
--O automóvel?
--Não! Uma besta autêntica, daquelas armas que se usavam na Idade Média, uma espécie de arco que lança a flecha em grande velocidade.
--... Mas, perdoe minha curiosidade, que diabos o senhor vai fazer com a besta, isto é, com o arco?

--Engana-se se acha ser inútil: Moro em um apartamento pouco alto. Quase em frente há um muro que faz ecoar tudo: Carros com som alto, brigas de rua, garrafadas...Da última vez, eu usei a besta para espantar um gajo que se aboletou ao pé do muro para tocar uma maldita sanfona para pedir esmola aos passantes. Ouvi de tudo um pouco, mas me irritei quando ele tocou um tango argentino. Aí, é abuso demais da conta! Mirei, disparei e o dardo cravou bem ao lado dele, no muro. O sanfoneiro pegou suas tralhas, puxou o banquinho e... foi tocar noutra freguesia!!!

Tive de dar razão à sua mulher, aliás...”

--E ele vendeu a Besta, o arco?
--Cada uma, viu...parece história da Carochinha. E você, Chato? Que manda?
“Vocês sabem, eu sou responsável por parte de um projeto de uma hidrelétrica. Daí que, outro dia, os funcionários do represamento vieram me avisar de um insólito fenômeno...”

‘—Chefe, o senhor precisa ver uma coisa!
--Que coisa, Valtencir?
--Põe no monitor.

Era o que se via: Milhares de peixes tentando pular na saída do fluxo de uma turbina, como se fosse uma piracema... Lindo de se ver, imaginem a cena.”

--O engenheiro, poeta! Deu de ser defensor do meio ambiente, ué?
--Pára com isso, Muro. E, Chato, o que aconteceu?
--Naquele dia, tivemos um pirão de peixe dos melhores!
--Eu sabia: Verás que um peixe teu não foge à luta!

A cerveja, morna, sem sal, de nome Cremer, ficava ali, desenxabida. Até que os três, em viva voz, disseram:

--Fora, Cremer!

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