O corpo humano encerra segredos insondáveis. Disso ninguém duvida. Cada qual carrega consigo mistérios e idiossincrasias - eta palavra bonita! No meu caso, por exemplo, confesso: convivo com algo que minha amiga Cristiane batizou sabiamente de "mundinho maçã".
Na prática, quando degusto o fruto proibido - independente de sua textura -, me isolo do mundo, fechada na reverberação de meu próprio mastigar. Assim, quando por acaso conversam comigo enquanto devoro o pomo avermelhado, fico no dilema: manter meu prazer ou o diálogo? Em geral, a fruta escurece em minhas mãos, caso o interlocutor não tenha a sensibilidade de me dar um fólego (e um tempo) para a comilança.
Até pouco tempo atrás, achei que o fenómeno fosse exclusivo da minha pessoa. Uma peculiaridade a ser mantida a sete chaves, sob pena de parecer loucura dos meus ouvidos ou ressonància de minhas mandíbulas! Mas a Cris (a mesma colega de trabalho citada lá no primeiro parágrafo) compartilhou comigo idêntico evento, ao tempo que o cunhou de "mundinho maçã".
Nem preciso dizer que rimos muito juntas e que a característica comum nos uniu ainda mais. A denominação escolhida é perfeita! Assim, peço que não estranhem meu olhar vago enquanto como uma maçã. Por favor, não puxem conversa! O momento é tão ou mais precioso que uma meditação. E vale por dois motivos: pelo isolamento acústico ao som ambiente e pelo prazer gustativo! E mais: nenhum outro alimento é capaz de produzir de maneira idêntica o fenómeno. Por isso mesmo enalteço meu corpo, em sua bendita imperfeição, pela dádiva de me proporcionar tãol frutífero refúgio!