Carta encontrada em apartamento abandonado, perto do Lago Seco De Ponta Negra, ao sul do Deserto Salino das Dunas de Alumínio.
"Estimados colegas, familiares, amigos, amantes e assemelhados: Venho, por meio desta, discutir a possibilidade nada remota de extinção de nossa espécie.
Colocando em termos práticos, sendo que eu mesmo nasci à beira do Lago, hoje seco, e em uma vida de quarenta anos vi a Lagoa se tornar um banco de areia cheio de peixes esqueléticos e aves enegrecidas pela fuligem das fábricas e poeiras químicas, tenho que compartilhar esta verdade.
Nada justifica essa busca desenfreada pelo consumo enlouquecido. Nada justifica perdermos nossos melhores valores em nome de um Ter maior que o Ser. O que ensinamos a nossos filhos? Que a Ciência nos levou a isso? Complexo de Frankesntein, eu digo e repito. A Ciência é maravilhosa; o problema está nas almas entorpecidas que fazem dela o paradigma de nossa civilização e a tornam o novo Deus, em nome da materialidade absoluta. Tudo se racionaliza, então. O erro fundamental é a base de nossa situação atual: Sem freios, desencadeamos esta catástrofe, essa ignomínia, essa hecatombe. O Lago tornou-se a Lagoa Seca e a Ponta, Ponta Negra..
Não sabemos até onde podemos ser ingratos para com o Planeta que nos gerou e apesar de todo o milagre de nossa existência, não voltamos mais os olhos ao céu porque lá não mais enxergamos as estrelas, somente a placa de poeira que nos destrói os pulmões. Nenhum dos países produtores cedeu aos apelos dos ambientalistas: Fomos palavra vencida, fomos o passado.
Agora, não há nem presente, quanto mais o futuro.
Por meio desta, venho a comunicar meu breve desaparecimento. Não que vá fazer falta, veja bem, não que eu farei a diferença. O que é a voz de um homem afinal, solitário em seu grito contra a marcha cósmica do medo?
Não se preocupem, irmãos: Logo me farão companhia. Será mais rápido do que pensam. Não adianta fugir. Nada deterá a marcha inexorável do progresso e nem o andar do cavalo do apocalipse. De modo que aqui me despeço, recomendando a todos uma breve estadia no Purgatório antes de penetrar no Paraíso..."
"(Ilegível)...Agora sinto o entorpecimento. O frio...(ilegível). Os lagos me absorverão ao final e partes de mim serão o tudo que resta....(ilegível)"
(Ilegível)
(Ilegível)
(Ilegível)
ILEGíVEL