O objeto brilhante desceu lentamente depois de fazer um espetáculo de luzes no céu de brigadeiro. Todos imaginavam uma estrela, mas ela cresceu, cresceu e...desceu, desceu, fazendo todos a princípio se assustarem com um possível míssil norte-coreano, ao que um gaiato respondeu:
--Mas as coordenadas são mais ao centro-oeste...
E a coisa luminosa, majestosa mesmo, planou feito uma pipa leve, levantando um bico carrancudo e abrindo as garras para pousar levemente na terra. Terra-Brasilis.
A multidão olhava o objeto que pulsava e emitia um som nada parecido com os caminhões de trio elétrico ou os carros de funkeiros idiotas. Nada lembrava a sanfoninha do tio Bonifácio, que calado escutava o bramido do engenhoso artefato.
Silêncio total na praça Dom Pedro. Os ónibus lotados pararam, as pessoas saíam aos borbotões das estações, crianças choravam e algumas mulheres davam gritinhos histéricos. Um mané de Bonezinho virado mascava um chiclete ouvindo o som maneiro de costas para a coisa toda. Levou uma chulapa do marmanjo bombado que o chamava à civilidade.
--Qual é?
--Olha pra trás, seu peido.
O bonezinho sumiu, correndo para a esquina. Só seus olhos se arregalaram.
--Olha lá cliente! Vem comprar aqui com a gente, leva três e pague dois!!!
--Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!! Porra!
Abriu-se uma porta gigante; a luz cegava os mais próximos. Recuaram instintivamente. Desceu um camarada de mais ou menos dois metros de altura, com a pele prateada, orelhas de ponta e olhos azuis-escuros. Em voz lenta e pausada, disse, retumbante:
--Olá, povo do Planeta Azul. Venho em paz. Levem-me ao seu líder.
Começou a discussão, de início murmurante, depois crescente.
--Que diremos a ele?
--Pois é. Quem é nosso líder?
--Sei lá. Ó: Elegemos uma senhora que foi imprensada.
--Impichada.
--...Isso, isso. Agora, quem manda em nóis, mano?
--Ué, não é o felizardo da moça linda?
--...É?
--É, garay! Não é?
--Mas estão imprensando ele.
--Impichando.
--Ah, ié. Então, se ele for impichado???
--Assume o outro.
--O Vice?
--O vice é ele, porra.
--E o outro que quer voltar?
--Ele está enrolado. Não é.
--E o outro que quase ganhou?
--Preso.
--O outro, lá da floresta?
--Caiu de avião.
--Então, que dizemos a ele?
Murmúrios, gente se desentendendo, meio que uns de um lado, outros do outro, gente tomando partido de uns e outros, paus e pedras na mão.
O Fortão lá. Impávido colosso, olhos azuis-escuros, dois metros, descido de uma nave sideral, esperando a porra da decisão do povo que discutia e não decidia nada, como sempre. Ele olhou para a nave, fêz um sinal com a cabeça, zumbiu uma sirene de quebrar janelas.
Gritaria, parou geral.
--Então!!!! Levem-me ao seu líder!!!
--Moço, há uma discussão aqui.
--NÃO SABEM QUEM É SEU LíDER?
Todos se entreolharam. Todos estavam sem jeito. Até o menininho de pirulito na mão olhou para a mãe com olhos interrogativos.
Ninguém sabia. Ninguém sabia quem era o líder porque ninguém sabia o que tinha feito até então! Ninguém tinha a menor idéia, tal era a confusão. Ninguém sabia do todo, só sabiam de si mesmos.
Era uma multidão sem rumo, que trabalhava, ouvia suas músicas, fazia suas compras, pagava suas contas e...Mais nada.
O grandão interestelar olhou a multidão com pena.
Falou, com voz retumbante:
--Nós viemos em paz. Viemos porque achávamos que aqui vivia um povo de ouro, com o coração valente e com a alma de lutadores. Estávamos enganados. Voltaremos à s estrelas. Um dia, quem sabe, poderemos guiar os seus verdadeiros líderes ao verdadeiro caminho!
Entrou na astronave, fecharam-se as portas e ela decolou ao céu da noite paulistana à busca de outras plagas talvez menos insidiosas.
--É, mano, o negócio tá feio. nem as estrelas nos salvam.
--Só a democracia nos salva.
--Seremos um povo ou um ajuntamento?
--Quem somos, de onde viemos?
--Cliente, olha lá, a estrela vai mas a senhorita fica: Duas por três, é levar já!
--Mamãe?
--Diz, filhinho.
--QUEM É NOSSO LíDER?