O primeiro ambiente por ela frequentado foi o uterino e lá envolta numa bolsa cheia de líquido que a segurava por um cordão pulsátil, ela se divertia dando os rodopios dignos de uma artista circense. Foram assim oito meses a brincar no imaginário do que seria o futuro. Ao dar de cara com o mundo de um jeito um tanto espalhafatoso, estava a dividir um lugar com várias outras cada uma na sua cuba. Sempre de braço em braço, ela foi crescendo com a ansiedade de um dia sentir-se devidamente acolhida. Não houve jeito, teve que crescer sem um mínimo sinal de amadurecimento que a fizesse perder um pouco da inocência. Veio o golpe de misericórdia que tirou de cena uma outra parceira. Mas a solidão não se deixava ser entregue ao encontro com ela própria, pois para sobreviver teria que carregar na essência, a euforia que nunca a deixaria a sentir-se só. E assim, ela vai seguindo em frente como se evitasse o contato íntimo com outras solidões. Ela só, nunca se perdeu, mas encontrou infinitas possibilidades de só viver.