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cronicas-->Sabedoria -- 28/05/2018 - 20:16 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pouco se pode dizer do que fui, do que era. Há tempos que houve o esquecimento natural dos fatos trazido pelas idades insondáveis e pelo empedramento cristalino, pelo arrefecimento das marés em constante movimento contra os rochedos impossíveis que eu achava existirem em uma circulação de fatos imponderáveis. A maior verdade que eu descobri, nessa caminhada toda, é que há verdades que mudam de lado assim como há as que duram para sempre. Isso não pode ser segredo nenhum, nem de estado e nem pessoal; os segredos falam mais alto que muitas verdades feitas e nada faz sentido maior que a descoberta deles em pleno estado de lucidez. Ah, esse temível estado de lucidez! É o que medra em nosso gozo perfeito de consciência, mas é o que repara mais nos rochedos impossíveis, os tais que eu achava inamovíveis. As pedras pontiagudas, os cristais de quartzo, os muiraquitãs redondos de tanta erosão, as esmeraldas dos fundos de um rio inabitado, as fontes do Paraíso: Essa tal lucidez me atormenta, porque arremata o sonho, aperfeiçoa a brusca existência, apodera-se da solidão que cria, fomenta a paixão remota. A tal lucidez desinventa a Criação e pavimenta os dias com o asfalto da realidade que resseca.
Sei perfeitamente o que fui, tenho a noção de que sou mais um num Cosmo que se movimenta lá fora, independente de meus movimentos cá dentro. Este Cosmo que corre em direção ao infinito enquanto eu tenho a breve noção da finitude, com data e hora para terminar. Se tenho noção de quem fui, o que mais me amedronta é não saber do que nunca serei, para sempre, em breve tormento. Daí vem a luz da razão e diz que se penso, eu existo, logo se eu não existir, nunca terei pensado. Isso é o que mais incomoda nessa linha de raciocínio, ainda que eu seja um cínico e duvide que as razões perfeitas sejam fabricadas por alguém que se diz vitorioso: A História sempre foi escrita pelos tais vitoriosos, por mais que o homem comum se aceite como tal. Eu não posso acreditar nas tais verdades fabricadas, nos tais fatos do destino, nas tais pedras de toque dos intocáveis de sempre; deve existir por debaixo das peles que nos vestem uma mais pura, mais leve e etérea que reveste um núcleo que jamais se desfaz e que traz à existência o sabor de todas as coisas, apesar de elas serem breves e intransponíveis. O Destino será nossa marca ou nascemos para duvidar dele e, digamos, fabricar as pontes para as estrelas, ainda que mortas? Será por isso que olhos as noites frias de maio com a mesma grandeza com que eu as olhava aos cinco anos e ainda vejo naqueles vultos esféricos a tal matéria sutil que nos compõe por dentro?
Sei o quanto fui, embora não se meça o conhecimento em tábuas de cálculo nem em fórmulas descobertas por matemáticos, sei e só, aprendendo a ser e caminhando nos passos da areia de uma praia que sempre esteve comigo, passo a passo, num caminhar calmo perto das vagas de um Oceano de possibilidades. Nego-me a deixar que dirijam o que penso, nem deixo que manipulem minhas crenças com fórmulas batidas de um antropocentrismo totalmente inaceitável.
Sei o que sou, agora, aqui, olhando para você, de fato, percorrendo cada curva suave do rio que comporta seus olhos, sua mansa personalidade, seu sorriso. Sei que estou aqui, agora, sorrindo porque descobri o óbvio pelo caminho mais tortuoso.
Agora, eu sei.
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