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cronicas-->Suicídio assistido -- 13/07/2001 - 22:04 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pediu demissão do emprego. Derramou a caixa de clipes na mesa do presidente, agarrou-o pelo pescoço, grampeou-lhe a orelha e saiu pela garagem cantando pneus.
Passou no Banco 24 horas, sacou tudo o que tinha e deu ao primeiro flanelinha que encontrou. Deixou apenas o suficiente para comprar uma garrafa de vodka na loja de conveniência.
Encheu o tanque, pagou com um cheque em branco, e saiu em direção da estrada - pisou fundo.
Queria apagar tudo da memória. Passou ao lado de uma favela, onde crianças brincavam ao lado de um riacho cheio de lixo, de cor enegrecida. Lembrou-se da infància no interior, da caminhada diária até a escola, pelo meio do mato. Levava sempre o estilingue no bolso do calção.Quase sempre errava o disparo. Na manhã em que matou uma sabiá, chorou o resto do dia. Foi a primeira vez que viu a morte. Enterrou no fundo do quintal e fincou uma cruz ao lado.
Acelerou mais e entrou na estrada. Passava das dez, ele abriu a garrafa e bebeu um gole. Recordou o primeiro beijo - no rosto - que deu na vizinha, filha de um compadre do pai. No dia seguinte, levou-lhe uma cesta de goiabas, ainda verdes, que colheu antes de dormir. Ganhou uma poesia de presente. Duas ou três estrofes escritas com letras redondas. Terminava com um "eu te amo". Ele ficou dias e noites lendo o pedaço de papel de pão. Aquele sonho durou até que se mudou para estudar na capital. Jamais esqueceu o olhar minguado dela, quando tomou o trem.
Formou-se em direito, arrumou emprego no dia da formatura. Casou-se com uma colega da faculdade. Reviveu o dia anterior: ela queria vender o sítio e trocar de carro - já tinha até comprador. Ele podia sentir o cheiro do amanhecer, do café antes do sol nascer, dos fins de semana onde buscava as origens. Ela detestava ir lá. Ele passou a ir sozinho, os filhos nem queriam saber de ir junto: - Lá não tem nem shopping! - diziam.
Relembrou da briga que teve com a esposa ao chamar o marido de uma amiga de pederasta. Passaram a noite trocando lembranças e fotos de viagens a Nova Iorque, ou New York, como eles insistiam. O sujeito nem sabia pegar numa vara de pesca, só sabia falar de vinho francês e do automóvel que pretendia comprar. Ela disse que ele não passava de um matuto. E fez greve de sexo por um mês. Ele jantava qualquer coisa na padaria e só voltava na hora de dormir.
Estudou numa escola de fazenda, os filhos na mais cara do bairro. Convidou-os para ir pescar. Recebeu gargalhadas como resposta. Quis argumentar, mas foi impedido pelo barulho que saía da TV. Eles iam mudar de fase no jogo e não podiam prestar atenção naquele momento. Quis fazer pipocas, eles pediram um saco de batatas fritas. Foi ao quarto trocar de roupa e não encontrou o velho jeans. Perguntou à mulher, e soube que havia sido trocado por outro, mais adequado à sua posição. Saiu batendo a porta.
A estrada ia saindo da cidade e entrando no ar melhor. Abriu a janela e respirou com sede. Tomou mais um trago e diminuiu a marcha. Riu, lembrando da cara da avó, quando encostava a làmina da faca nos galos que trazia chorando, depois de algum tombo de árvore. E da mãe, que o fazia beber chá de hortelã, quando tinha dor de barriga. A esposa entope os filhos de antibióticos a cada espirro. Ela toma calmante para dormir, e nunca aceitou fazer sexo sem antes tomar um banho e voltar cheirando como um francês. E só sabia fazer as posições que via nos filmes da Sharon Stone. Ele tinha que ser um best-seller, e ficar com aquela cara de halterofilista torcendo a boca, com cara de mau. Ela nunca topou transar de noite na praça, só aceitava com lençóis de seda e iluminação indireta. Encheu o quarto com tantos espelhos, que ele ficava tonto até conseguir chegar ao guarda-roupa.
A garrafa já ia pela metade, quando viu um cachorro na pista. Pisou no freio e tentou desviar. Entrou na pista contrária e perdeu a direção.
Espatifou-se num poste e teve morte instantànea. A càmera da concessionária captou tudo, e a seguradora matou dois coelhos com uma cajadada. Livrou-se do pagamento do seguro de vida e do automóvel.


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