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cronicas-->Um Rosto (mas não apenas...) -- 17/08/2001 - 17:20 (Nilson Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Às vezes costumo ir à Boa Viagem pra assistir um filme, coisa normal, só que às vezes nem tanto. Sabe como é... Vida de jovem sem carro, que depende sempre da carona dos amigos, em alguns casos dos pais mesmo, ou então do velho coletivo. E é assim. Geralmente assisto (os filmes) com um bom grupo de amigos, mas há ocasiões, quando a vontade é grande e não se consegue mais nada, em que o jeito é ir só. E sempre acaba tarde o filme, como é meu costume de horários.

Tudo normal na hora de ir, idem na hora da exibição, só que na volta... Ah... Sempre bate alguma coisa. Uma melancolia, talvez até nostalgia (mas de quê?). Acho que é o clima da cidade, a calma, a noite por cima de sua cabeça... Sempre assim. Principalmente quando caminho pelas ruas do centro em direção ao segundo transporte. As ruas do centro de Recife, escuras, um pouco menos sujas hoje do que me lembro, repleta de pessoas teimosas, que ficam também a zanzar tarde da noite por lá. Ninguém imagina que exista vida na Conde da Boa Vista às 10, 11, 12 horas da noite, mas existe. Uma visão cheia de tipos peculiares, as pessoas comuns - aquelas sem rostos, sem nomes, que às vezes até que parecem que foram colocadas ao seu lado somente pra que as coisas não parecessem estranhas demais - mas mais que isso: aquelas outras pessoas, tão sem definição quanto as comuns, mas que mesmo assim se destacam, aquelas pessoas que parecem que se escondem durante o dia, e que quando se mostram têm seu brilho ofuscado pelo sol e só são realmente bem percebidas quando a maioria das pessoas comuns, as normais, já estão em casa assistindo TV deitadas no sofá e a noite já vai alta.

Ela era assim, uma garota que vi hoje. Lá, sentada, com suas duas amigas no banco imediatamente à minha frente e ela por sua vez imediatamente à frente das amigas, aliás, lembro que sentei ali justamente para olhar seu rosto quando ela se voltava para trás para falar com elas. Prendeu-me a atenção. E não, não havia uma beleza além do se vê sempre. Pele bem branca, olhos grandes, com as íris tão negras quanto suas pupilas, óculos, cabelo curto e escuro e uma touca preta de um time de baseball. Sim, acho que foi a touca, e os olhos; sempre eles. Lá, conversando sobre as futilidades do dia e rindo bastante, como todos os humanos fazem, nem que seja apenas uma vez na vida, eu acho.

Mais que um rosto agradável e um olhar marcante, ela me trouxe lembranças. Lembranças de uma outra garota, uma com a qual convivi e conheci tão pouco mas que ainda assim me trazem daquelas recordações que você sempre acha que nunca vai esquecer, tenham acontecido há dez dias ou dez anos ou dois, como nesse caso. Ah sim, sinto falta dela justamente por causa das coisas únicas que fiz quando estávamos juntos. Com quem mais eu cometeria a loucura de pegar um ónibus de casa quase às duas da manhã de um sábado somente para ir comprar pipocas no terminal, daquelas de saquinho transparente, sem marca e cujo único gosto que eu sentia era o da quebra do comum? Com quem mais eu iria para praia durante a semana e numa noite chuvosa somente para sentar ou andar na areia e sentir as gotas d água caindo nos ombros? Ou nem isso, somente a lembrança dela dormindo com a cabeça encostada no meu ombro ou seu abraço me são suficientes para arrancar um sorriso de saudades dos lábios. E, aliás, eu nem sei o que havia na garota de hoje que me lembrou da de antes, afinal não eram nem um pouco parecidas.

A garota da touca... Que para mim não tinha nome, mas apenas um rosto para provar que realmente existia, que era única e não apenas uma comum. E finalmente chegou o ponto em que tive de descer, e fiquei parado na calçada olhando para ela, lá na janela com um sorriso no rosto e retribuindo meu olhar... Ela, cuja última lembrança que eu tenho foi um pequeno aceno. Como se ela dissesse um tímido "até mais", ou talvez como uma lamentação de "você devia ter falado", como uma despedida silenciosa de duas pessoas que nunca mais irão se ver.
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