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cronicas-->Dias Úteis ou O Capitalismo na Linguagem -- 26/03/2000 - 01:53 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dias úteis ou O capitalismo na linguagem

Dona Marta era uma pessoa muito, muito atarefada. Zelosa dos seus intermináveis
afazeres de dona-de-casa, nunca tinha tempo para nada. Aliás, para nada que não
dissesse respeito à arrumação da casa, à preparação das refeições para o marido e os três "meninos", como ela ainda os chamava, apesar da maioridade dos três.
O marido, este no começo se queixara, porque Dona Marta estava constantemente ocupada, mesmo nos finais de semana, quando ele queria visitar os parentes.
Dona Marta, sempre com suas desculpas, arranjava um jeitinho de ficarem em casa:
- Vicente, eu tenho uma porção de coisas para fazer...
- Eu sei, Marta, mas eu queria ir almoçar com...
- Faz isso. Convide-os para almoçarem conosco.
- Marta...
- Ora, assim eu posso cuidar das minhas coisas antes do almoço.
- Você sempre arranja um jeito de ficar em casa.
- Mas não é mais prático assim?
- Bem, você quem sabe...Parece até que não sabe respirar fora desta casa...
- Ora, depois você conhece os meninos. São meio enjoados para comida.
- São mesmo. Mas você ainda obriga a Carmelita a ajudar na cozinha.
- Ela precisa aprender...
- Mas também precisa se distrair. É muito nova ainda.
- É, mas no meu tempo, eu ajudava. Foi assim que aprendi.
E assim, eles acabavam ficando. Começaram a declinar os convites, não visitavam ninguém; Dona Marta, sempre ocupada com os almoços ou jantares para a família - a dela e a dos parentes, vizinhos e amigos.
Esmerava-se no preparo dos pratos, procurando satisfazer aos gostos de todos.
"Seu Vicente" acabou se acostumando e arranjando também mil tarefas para fazer e, assim, ambos passavam o final de semana ocupadíssimos.
Até que a filha adotiva cresceu. E crescendo, começou a argumentar contra esse estado de coisas, até porque, adolescente, queria sair e os pais tentavam impedi-la.
- Mas mãe, já não chega a trabalheira toda com essa casa durante a semana?
- Eu sei, mas durante os "dias úteis" não tempo para fazer todo o trabalho.
- Mãe, que história é essa de "dias úteis"?
- Dias úteis é como são chamados os dias de semana, de segunda a sábado.
- E por acaso, o final de semana é inútil?
Nesse ponto, "Seu Vicente" também entrou na conversa, tentando defender o ponto-de-vista de Dona Marta, pois a essa altura do casamento, os dois já eram mais que marido e mulher, eram irmãos, gêmeos nos hábitos e atitudes.
E os "meninos" entraram também e toda a discussão girou em torno da expressão consagrada, da necessidade do trabalho, da necessidade do descanso, cada defendendo um lado. Claro que a juventude defendia muito mais o descanso...
Então, a filha mais nova, com a lucidez de um sábio, conseguiu finalmente explicar a origem da famigerada expressão:
Resumindo, eis o seu ponto-de-vista:
- Se é verdade que a maioria da população trabalha de segunda a sexta-feira, podemos
concluir que, considerando inúteis o sábado e o domingo, a sociedade privilegia
excessivamente o trabalho.
E ao primeiro sinal de discordància, ela concluiu com chave de ouro:
- Aliás, vejo isso como mais um reflexo do capitalismo, essa forma de dominação da mente humana que coloca o homem excessivamente a serviço do capital e nem sempre serve ao bem estar do próprio homem.
Diante do brilhantismo das conclusões da jovem, a conversa encerrou-se com um grito de alívio de Dona Marta:
- Raios me partam, mas PRECISO DESCANSAR!
Com o que todos imediatamente concordaram por unanimidade.
A casa vive hoje menos arrumada; compram refeições por quilo e aos domingos, vão à casa dos avós ou a um restaurante. Janta aos domingos, nem pensar, que Dona Marta nem ninguém é de ferro. E quando alguém ainda ao menos pensa na hipótese de tarefas prolongadas no final de semana, os outros são unànimes em contra-argumentar com a frase que virou mania da família:
- Raios me partam, mas preciso descansar!














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