A fantástica fábrica de chocolates foi um fracasso comercial em sua época, e o que ninguém esperava era que o filme se tornasse cultuadíssimo com o passar dos tempos. Quando foi lançado, o filme serviria como campanha publicitária para uma nova marca de chocolates com o nome de Willie Wonka, e que ultrapassariam gerações. As mesmas barras de chocolates haviam derretido nos depósitos das fábricas, e acabaram no lixo. Numa ironia de destino, as barras de chocolate que ultrapassariam gerações não duraram um ano, enquanto o filme que foi lançado para impulsionar as vendas dos chocolates, ultrapassou gerações e durou para sempre.
A idéia do filme partiu de um livro escrito por Roald Dahl, chamado Charlie e a fábrica de chocolates, e falava de honestidade, ensinando o certo e o errado para as crianças. Uma fantasia adulta, feita para crianças, dizendo os limites de cada um, e o que podemos e o que não podemos fazer. Mel Stuart, o diretor cinematográfico, percebeu que deveria filmar aquela história, quando sua filha indicou-lhe o livro. A idéia de vende-lo juntamente com barras de chocolates, partiu dos investidores que entusiasmaram-se com a idéia de uma nova marca de chocolates que durassem para sempre. Vários artistas brigaram pelo papel de Willie Wonka, como Sammie Davis Jr., e o próprio compositor das canções do filme - Anthony Newley. Mas o papel acabou ficando com o até então desconhecido no cinema, Gene Wilder, e que marcou para sempre a carreira deste ator. Foi de Gene a idéia de apresentar-se ao público como um deficiente físico de bengalas. Colocando o personagem em constante controvérsia, confundindo o telespectador, sobre suas verdades ou mentiras.
O livro não tinha um vilão, e por isso, foi inventado um personagem que sussurrava nos ouvidos das crianças, um personagem que representava um concorrente de Willie Wonka no ramo de chocolates - Sr. Slugworth. Roald Dahl escreveu o roteiro adaptando seu romance, enquanto um roteirista novato escrevia os diálogos. Coube ao novato, escrever os diálogos finais do filme, que ao contrário do roteiro de Roald Dahl que terminava numa onomatopéia - Iupii - indicando alegria e entusiasmo por parte do vovó de Charlie, terminando com um belo, porém piegas, diálogo entre Willie Wonka e Charlie, enquanto voavam no maravilhoso Wonkavador - um elevador que anda em frente, de lado, diagonais, pra baixo e pra cima. "Charlie, não esqueça o que aconteceu com o homem que de repente conseguiu tudo que sempre quis?", dizia Willie Wonka. "O quê?", respondia Charlie. "Ele viveu feliz para sempre".
A fábrica de chocolates foi criada por Harpper Goff, famoso diretor de arte naquela época, que imaginou um mundo mágico e lisérgico no auge do anos 70, onde viviam os Oompa-Loompas. "Oompa-Loompa Doompa dee do, I got a perfect puzzle for you...". Talvez sejam os Oompa-Loompas que impulsionaram essa fixação sobre anões, perpetrada até hoje - Mini-me em Austin Powers, anões assassinos lutando contra Inspetor Clouseau, luta livre de anões, Willows, Ewoks, ou Chuckies. Alguém já viu um funeral de algum anão? Os anões compram ternos em lojas infantis? O que foi feito do Nelson Ned? Existe algum ex-anão? Na verdade, os Oompa-Loompas eram representados por anões? Ou eram realmente Oompa-Loompas - criaturas pequeninas com os rostos laranjas, cabelos verdes e calças largas vindas da Loompalàndia, que viviam em desertos ermos, sendo devoradas por bestas ferozes, bestalhões e Tipos Vermiformes. Em suas canções, os Oompa-Loompas ensinavam à criançada lições de moral, e como se comportarem corretamente. "Oompa-Loompa Doompa dee dee, if you are wise, you´ll listen to me...".
Na fábrica, existia um lugar mágico, chamado: A sala do chocolate, que possuía uma cachoeira de chocolate e inúmeros doces pendurados em árvores como se tivessem brotado de alguma semente, e onde quase tudo era comestível, menos as pequeninas xícaras de chá que eram flores feitas de cera, as quais Gene Wilder comia e cuspia logo após o diretor gritar: "Corta!". Na sala de invenções, estavam as mais espetaculares criações em matéria de chicletes, doces explosivos, xaropes coloridos, e pastilhas eternas multi-coloridas - everlasting gobstoppers. Cada cenário em particular provocava alegria e entusiasmo nas crianças que participavam do filme como se fossem os próprios atores. Os atores mirins, hoje em dia estão crescidos e nenhum deles seguiu a carreira, porém guardam lembranças eternas de uma fantástica terra de maravilhosas engenhocas que reinventavam qualquer fábrica de chocolates.
Os bilhetes dourados representavam uma versão infantil de ganhar na loteria, uma chance dourada de entrar na fantástica fábrica de chocolates e conhecer o famoso, e recluso Willie Wonka. Gene Wilder fazia um Willie Wonka que inspirava ao mesmo tempo, terror, raiva e alegria nas crianças. As crianças sentiam-se traídas quando Willie Wonka, demonstrava sarcasmo e ironia, ou transformava crianças em amoras, encolhendo-as, e até mesmo gritando com elas, como fez com Charlie. Mas na verdade, Willie Wonka queira descobrir a honestidade, dentro de algum específico garoto, e mesmo que para isso tivesse que ser cruel com ele. Porém as crianças não sabiam, e sentiam raiva do personagem, que num instante transforma-se num doce de pessoa, demonstrando ternura e compreensão, trazendo de volta sua alegria, para logo em seguida destituir sua confiança, voltando a aterrorizá-las com sua sarcástica indiferença. Talvez por isso mães desesperadas acusaram o filme de ser cruel com as crianças, mas o fato é que elas entendiam muito bem a mensagem passada pelo filme, que em momento algum o filme subestimara a inteligência delas, tornando-se também um filme para os adultos.
As fantásticas barras de chocolates não ultrapassaram gerações, mas o filme sim, deixando um enorme legado na mente de várias gerações, e ainda a várias gerações por virem. Milhares de pessoas por dia interrompem Gene Wilder na rua a perguntar-lhe sobre Willie Wonka e a fantástica fábrica de chocolates. Em 1999, uma senhora interrompeu suas compras com as crianças a tira colo num caixa de supermercado:
_ Posso contar à s crianças quem você realmente é? _ perguntou.
_ Se você não gritar... _ respondeu-lhe Gene Wilder.
_ Crianças, vejam _ disse ela sussurrando aos seus ouvidos. _ É Willie Wonka...