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cronicas-->Pensar e escrever -- 15/11/2001 - 22:57 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pensar e escrever

O pensamento é a única forma do homem praticar a liberdade. Nenhuma ditadura, nenhum déspota, nenhuma lei, pode impedir que pensemos livremente. Imaginamos o que queremos. Fazemos justiça, criticamos, elogiamos criamos seres imaginários. Não somos fiscalizados, não existem leis nem normas que nos bitolem. No nosso pensamento criamos as nossas próprias leis, o nosso país o nosso mundo. No mundo imaginação nada é proibido. Criamos nossos personagens, e os construímos como um Deus. Elaboramos seu corpo, suas idéias, a maneira de agir e também fazemos o que ninguém pode fazer com nós mesmos. Controlamos até o seu pensamento. Educamos ou o tornamos um mau caráter, fazemos um herói ou um covarde, um honesto ou um ladrão. Clonomos dos seres existentes, e transformamos na pessoa que queremos. Atingimos com justiça ou com maldade aqueles que nos são caros ou aqueles que são nossos inimigos. Julgamos e condenamos, ou absolvemos e transformamos em ídolos. Muitas vezes para caricaturar ou para ironizar, jogamos nos personagens fictícios idéias contrárias ao seu clone real. Conseguimos criar até o mundo ao seu redor. Familiares que tanto se odeiam, juntamos na mesma casa e infernizamos a sua vida. Do mesmo modo juntamos aqueles que vivem separados por injustiças dos próprios circunstantes e damos a eles uma vida repleta de felicidades. Destruímos os poderes constituídos, executamos políticos corruptos. Enriquecemos os pobres e miseráveis e empobrecemos os ricos e afortunados.
Nada do que nós pensamos, os personagens que criamos ou clonamos, não nos faz um ser desumano ou mal, e nenhuma lei, nem qualquer juiz poderá nos condenar ou até mesmo discordar. A criatura seguirá impune e intocável até a última vontade do seu criador.
O ser que pensa dorme pouco, mas vive mais. Desabafa, desopila e terá sempre a sua disposição alguém que o ouça e que o entenda, como nenhuma criatura humana o entenderá. Pensando assim é como consigo entender, a conformação de muitos tetraplégicos e deficientes da fala , da audição e da visão. Eles quando conformados, criam o seu próprio mundo e tornam-se muitas vezes criaturas mais felizes que aqueles que têm saúde, poder e fortuna. Deus criou o homem verdadeiramente a sua imagem e semelhança. Na verdade em cada ser humano, ele deu o direito de criar os suas criaturas e o seu próprio mundo. Cada criatura é um Deus e poderá criar o seu mundo e quantos outros mundos desejarem, sempre que usar a força sem limites, e sem fronteiras do seu pensamento.
Já criei vários mundos e muitas criaturas até os meus 59 anos. Alguns eu destruí, outros aproveitei alguns pedaços. Há de se notar que entre tantos mundos, também criei uma infinidade de criaturas. Algumas foram clonadas do mundo real, e outras como Adão e Eva, retirei algumas partes e criei uma terceira. No início, até aos 14 anos costumava criar mundos onde minhas criaturas eram bem nascidas, tinham fazendas com gado, caminhões, tratores e lavoura. Criava máquinas que colhiam a plantação sozinhas como existem hoje. Tinha aviões, pistas de pouso pavimentadas e até televisão que naquela época não existia. Quando comecei a frequentar cinemas, teatros, ler romances, histórias, guerras, jornais, revistas e tudo que o mundo real naquela época me oferecia, construi um outro mundo sem nenhuma inocência e apimentei com algumas mulheres que desfilavam na minha vida real, e algumas que propositadamente começava a criá-las. Nos novos mundos criados, aprendi muita geografia e comecei a querer conhecer o mundo real que a minha imaginação via nos livros e transformava em sonhos. Ao completar 14 anos comecei a trabalhar, mesmo contra a vontade do meu pai. Meu objetivo era conhecer ao vivo, aquilo que com a ajuda da imaginação conhecera apenas nos livros. Trabalhava de dia e estudava a noite. Para isso era necessário fazer minha independência financeira.
Aos 21 anos era Bacharel em Direito. Profissionalmente, era Gerente de Banco. Continuava solteiro, e com uma vontade inabalável de correr o mundo real. Ao tempo em que estudava e trabalhava, o meu mundo real enfrentou o mundo político. Embora nunca desejasse ser político, entendia da matéria, era um homem de esquerda e amava a liberdade. Aos 25 anos assisti ao vivo a implantação de uma ditadura militar. Os princípios libertários da revolução Francesa ainda explodiam dentro de mim. A Segunda Guerra parecia Ter sido ontem. A guerra da Coréia. Toda essa beligerància estava dentro dos meus pensamentos noturnos. Tomei partido contra a revolução. Participei de reuniões nas caladas da noite. Escondi amigos procurados. Fabriquei e explodi bombas caseiras (juninas envenenadas)em faculdades, quartéis e prédios públicos, sempre tomando o cuidado para que ninguém saísse ferido. Escrevi, fabriquei e distribui panfletos subversivos para época. Minhas idéias nunca foram bem acolhidas na minha família, e por vezes passei por constrangimentos e fui mal entendido. Era e continuo sendo um crítico ferrenho da lei, que é elaborada tendo em vista sempre os interesses corporativos ou paroquiais em detrimento dos interesses da população. Animais políticos se reúnem três vezes por semana para conciliar interesses, fazer barganhas, vender opiniões, e trair o povo que os elegeram. Desprovidos de caráter, cevados pela incompetência, envolvidos pela corrupção, compram, vendem e alugam o destino de uma nação. Graças ao meu instinto de liberdade, nunca me filiei a nenhum partido. Quando achava o lado da razão e da justiça me plantava nele. Não aceitava dividir opinião com ninguém, muito menos aceitar dogmas políticos de pensamentos terceirizados. Não sou responsável pelos desonestos que hoje usufruem da carniça do poder. Quando os defendi, e lutei junto com eles, demonstravam a firme posição de um dia mudar esse país. O discurso era bonito e a minha esperança era grande, face ao sofrimento que todos enfrentaram. Jamais poderia imaginar que as criaturas do meu mundo real, não resistissem ao vírus do poder e a incúria do dinheiro fácil furtados dos seus irmãos.
Aos poucos, a cada decepção, fui me afastando do mundo real ao tempo em que dedicava mais tempo ao meu mundo imaginário. Desde que comecei a criar mundos e criaturas, pedia licença a minha liberdade e escrevia algumas linhas, mesmo que ninguém viesse a ler. Detesto a gramática, a concordància, as regras da escrita e a ortografia. Nunca as aprendi. Primeiro por que são complicadas, dão trabalho e matam a imaginação. Quando a engenharia da escrita de um texto é apreciada pelo cumprimento das regras linguísticas, peca pela ausência do subjetivo, do romantismo, e da autenticidade da imaginação. O autor preocupa-se demasiadamente com as regras gramaticais e perde na liberdade de transmitir seus pensamentos. Com advento do computador, pelo menos a ortografia não dou nenhuma atenção. No final do texto passo o corretor e desmancho as besteiras que escrevi. Quanto a concordància, essa não tem jeito. Vai certa ou errada, e pouco estou me lixando. Não pretendo ser escritor, escrevo apenas para desabafar e conversar comigo mesmo. Maltratar a quem merece ser maltratado. Elogiar a quem deve ser elogiado. Aplaudir a quem deve ser aplaudido. Denunciar o que deve ser denunciado e ironizar o que deve ser ironizado. No meu mundo não há complacência com os injustos nem castigo para os que gostam da liberdade.

Mauro de Oliveira
24/10/01

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