Conheceram-se através da Internet; terminaram por telefone!
Talvez esteja aí a chave do seu fim: o meio de comunicação utilizado. Mas não há de ser nada: a vida é a arte do encontro. Tá bom! Esqueci: embora haja tanto desencontro pela vida!
Para manter o sigilo, usarei nomes falsos: João e Maria, como nessas revistas que contam casos-verdade!!!
Eu mesmo já cheguei a dizer a um amigo, entre uma ostra e outra: conviver é tolerar! A isso brindei, com um certo ar de superior. E estava certo!!! No caso, Maria não tolerou as esquisitices de João: muitas para o gosto dela! Como ele podia ser assim: quieto, tímido, de pouca iniciativa, incrédulo de suas capacidades? Teve vida fácil; escondeu-se atrás da figura dos pais, figura que pinta com cores terríveis para justificar sua vida de caramujo! Um tolo, né Maria? Ela diria sim! Ah! Quase esqueço, né Maria: tão alto, mas parecia um menino!?
A gota d´água foi um atraso para o cinema: João não chegou a tempo. Ele que convidou, né Maria?! Votemos um pouco...eles estavam dando um tempo! Namoro de quatro meses: só alegria!! Um belo dia, João chamou Maria para sair com um casal de amigos! Algo falhou: o casal não poderia sair. Então, o embotado João resolveu dormir na casa de Maria: estoura a guerra! Como pode? Aquele fraco!!! Era a mesmice, né Maria?! Toda quarta e todo fim-de-semana, dormindo na casa de Maria: quem aguentaria, quem?? Maria não aguentou: `vamos dar um tempo!´
E veio o tempo e depois o fim! Mas eu falei do cinema, não falei? Pois é! Ele a convidou para um cineminha, aproveitando o feriado! De repente, ela ligou: tó saindo, tó no ónibus! João saiu apressado, já não dava mais tempo! Esperou quase uma hora pelo ónibus! Chegou, esperou a sessão terminar: nada de Maria! Percorreu o shopping duas vezes e nada: cadê Maria? Esperou só meia hora: foi para casa! Tolo esse João, havia outros ónibus para chegar ao local, mas só esperou pelo menos frequente e nem pediu informações!!! Ah! Maria fez bem: tchau, João! E ainda aconselhou: João, terapia, meu amor!!!
Perguntado sobre sua versão dos fatos, João apenas disse, em tom baixo, como quem conta um grande pecado: `Eu tinha até feito a barba, que é como ela gosta!´.
Outro dia, encontrei João na rua. Fiquei sabendo que é um rapaz de possibilidades, como diria Pessoa: tem curso superior, está tentando uns concursos. Quer ser juiz! Confessou-me que arranha uns acordes ao violão (que Maria até apreciava) e que chegou a mandar algumas mensagens poéticas para o celular de Maria!
João ainda contou que terminaram numa sexta-feira: por telefone! Na segunda-feira foi até a casa de Maria: devolver uns objetos e pegar o relógio. Sim, João me disse que havia perdido a noção do tempo. Mas acho é que Maria perdeu tempo com João.
Alexandre Palhares - São José, 21 de novembro de 2001