Sabe essas noites em que você chega em casa cansado demais pra discutir relações ou ponderar acontecimentos. São nesses dias que você percebe a falta de um advogado, quando a mulher do outro lado da cama resolve cismar que você já não a quer como antigamente, ou não se interessa pelo que faz, nem mesmo sabe o que é, e acima de tudo não sente orgulho nenhum dela.
Numa situação desta, entre a vida e a morte, a insónia e o sono, você tem duas opções: Alegar inocência, irrompendo o quarto num acesso de raiva, dizendo que é um absurdo, ela achar isso de você; ou acatar o discurso feminino com compreensão e paciência, até convence-la do contrário.
Para a primeira opção, é preciso ser advogado, mais que advogado; é preciso ser promotor, e resistir até o final confiando na sua própria indignação. È preciso sustentar seus argumentos com unhas e dentes e reclamar de todas as faltas e falhas anotadas e bem guardadas no fundo de seu baú de memórias. É preciso ser um ganhador sempre, e contar com a eminente vitória, mesmo que ela não venha.
Para a segunda opção, também é preciso ser advogado, mas advogado de defesa. E como todo advogado de defesa que se preze, é preciso escutar tudo com muita calma e tranquilidade, e defender o réu com unhas e dentes até o último recurso. O réu não é você, mas sim sua companheira de sexo feminino, que agindo como uma criminosa, acabou com seu sono e destruiu qualquer possibilidade de paz e tranquilidade. Mas como todo culpado, ela precisa de um bom advogado, que descarte toda e qualquer suspeita sobre sua pessoa. È preciso alegar sua inocência.
Sobre as duas opções, todas elas têm resultado, mas tudo depende do defensor ou do promotor. Na primeira opção, o resultado é como um susto, resolvendo tudo na marra. Na segunda opção, o resultado é mais trabalhoso, e por assim dizer, até mais vantajoso. Mas é preciso ser um bom advogado, e ter estudado muito os autos judiciais.
No fim, você terá convencido a outra parte, bem como a si mesmo, de que ainda a quer como antigamente, sente um enorme interesse pelo que ela faz, apesar de não entender, e sente muito orgulho dela. Não que tudo isso fosse mentira, e ainda é a mais pura verdade, mas até para isso - confirmar uma verdade -, é preciso ser um bom advogado.