Sentado no chão de seu quarto, rodeado por velhos jornais, brinquedos, tintas e pincéis, Vinícius tentava encontrar o melhor presente para sua professora. Dentro de alguns dias aconteceria uma grande festa na escola para comemorar o Dia dos Professores. Ele precisava encontrar algo ideal para Dona Neuza, sua adorada mestra. Pretendia demonstrar todo o seu carinho e admiração de forma sincera e inesquecível.
Vinícius leu em alguns jornais que os professores de todo país estavam reivindicando (ele só entendeu essa palavra depois de procurar no dicionário) melhores salários. Com a imaginação que só as crianças possuem ele elaborou um grande plano: iria falar com o Presidente da República e, no dia da festa daria a grande notícia, ele e o Presidente dariam um bom aumento para Dona Neuza, ou melhor, a todos os professores. Vinícius teve a certeza que seu plano colocaria o Brasil como referência mundial na educação e que a nova Ministra da Educação, indicada por ele, seria... Dona Neuza é claro.
Mas, ao começar a planejar seu encontro com o Presidente, Vinícius descobriu que Brasília ficava muito longe e, com a demora da viagem ele acabaria perdendo a festa dos professores e o campeonato de bolinha de gude no domingo.
E então ele começou a pensar em outro presente. Pintaria um quadro bem bonito. Seria algo esplendoroso, uma obra-prima. Dona Neuza ficaria orgulhosa dele. Pessoas viriam de longe para conhecerem tão perfeita criação. Ficaria famoso, ganharia rios de dinheiro e... Epa?! Não era ele quem deveria ser reconhecido e sim sua professora. Deixou a idéia de ser famoso para depois, afinal o mundo poderia esperar um pouco mais para conhecer seu gênio criativo.
E então, ao pegar alguns de seus brinquedos que Vinícius encontrou sua resposta.
Houve um tempo em que ele ia para a escola triste, não conseguia imaginar nada, nem se concentrar. Ficava sozinho no recreio, calado. Dona Neuza, preocupada, quis saber o que estava havendo e Vinícius, que sempre confiara nela, explicou que seus pais andavam brigando muito. Acusações, palavras rancorosas, gritos. Tudo isso o estava deixando assustado, ainda mais quando eles falavam em divórcio. Dona Neuza o abraçou e consolou seu choro baixinho, como uma amiga; uma cúmplice.
Certa tarde, quando ele chegou em casa encontrou a professora e seus pais rindo descontraidamente. Tomaram café juntos naquela tarde e todos pareciam mais tranquilos e serenos. A noitinha, antes de ir embora, Dona Neuza disse: - Lembrem-se, o amor só vale a pena quando aprendemos a viver juntos, mesmo com as diferenças, em prol de um bem maior que é a família.
Desde aquele dia os pais de Vinícius não brigaram mais e, ao se lembrar disso, ele teve a certeza de qual seria o presente ideal para sua professora.
No dia da grande festa Dona Neuza ganhou lindas homenagens, mas, a que mais a comoveu foi um porta-retratos de madeira, com uma foto do Vinícius abraçado com seus pais e uma mensagem escrita sobre a foto com tinta dourada e letrinha de criança caprichada: "Obrigado por ensinar a minha família a ficar junto. Com amor, Vinícius."
Um viva a todos os professores, estimuladores da criatividade, solidariedade e amor. Um viva aos professores que, nos dias turbulentos de hoje, encorajam seus alunos. E um viva a todos os alunos que reconhecem o valor desses profissionais.