Ricardo nasceu na mesma cidade que eu, mas não chegou a ser meu amigo de infància. Mudei de colégio na quinta série e ele permaneceu no mesmo. Encontrava com ele poucas vezes e não tinha muita intimidade. Um belo dia, estava participando de um trote na faculdade e fui dar uma olhada na bagunça de Direito e Ricardo estava cheio de areia e água de peixe. Tinha acabado de entrar para a faculdade. Descobri que ele estava morando perto da minha casa e que minha grade de estudo era parecida com a dele. Por esse motivo, Ricardo começou a me dar carona para "o estudo".
Ricardinho se tornou meu confidente no imenso engarrafamento. Me fazia rir todo o tempo e me buscava em casa todos os dias. Lembro que as vezes ia para minha sala de aula implorar ao professor para deixar eu sair mais cedo só para pegarmos a última sessão de cinema. Nossas conversas, em meio aos chopps gelados, varavam a madrugada e contávamos histórias da nossa cidade e como as coisas mudavam. Eu colecionava suas gírias, e ria compulsivamente de sua forma de falar. íamos para o shopping fazer compra sem nos preocuparmos com o fim do mês e com as contas que fazíamos. Lembro que ajudei a reformar seu apartamento e colocamos um tema em cada cómodo e, em seu quarto, o estilo japonês gritava as porcarias que insistíamos em entulhar.
A faculdade acabou e nossas viagens também. Cada um seguiu seu rumo, pois o tempo não nos deixou parar por nenhum motivo. Encontrei Ricardo poucas vezes pela cidade. Uma vez no Shopping no dia de Natal, outra em Pádua, ao passar de carro.
Talvez a saudade me faça escrever essa crónica. Ou um pedido de visita no sábado de sol. Quem sabe? Mas espero mesmo que os engarrafamentos continuem por algum tempo. E que, dia desses, eu possa ficar parada novamente na ponte e que Ricardo esteja ao meu lado. Nesse instante, poderemos colecionar gírias, amar as musicas e transformar o dia.
Quem sabe?