Escrevi uma crónica tão legal hoje! Só que fiz isso em uma folha de papel que se perdeu entre muitas histórias que ando recolhendo por esse Brasil afora. Lembro que era algo sobre presente.
Minha mãe diz que deveria vir escrito em minha testa:" Tenho uma ótima memória para esquecer". Ah, esqueci o autor da frase, veja só! Tenho mesmo a memória muito fraca para certas coisas. Sempre fui assim e hoje estou irritada porque perdi a crónica. O pior é que só pode estar em dois lugares: na minha mala de viagem ou na bolsa de mão e não acho de jeito nenhum.
Mas vá esquecer amor que maltrata ou o sorriso aberto que acabou de passar. Isso não esqueço! Lembro do primeiro beijo, do primeiro bilhete que tive coragem de mandar para o garoto mais bonito da escola. Nunca esqueço do cheiro do pai, do carinho da mãe.
Penso que minha cabeça só tem espaço para essas pequenas coisas que, para mim, são enormes. E daí se esqueço de apagar a luz do banheiro antes de dormir? Lembro do meu melhor amigo que sempre trás água com gás para as noites de conversa. Nunca sei a hora exata do seriado que vejo há anos, mas sei dos doces preferidos do meu irmão mais velho.
Já estou satisfeita. Depois de escrever algumas linhas, já esqueço de lembrar da crónica perdida. Vai ver ela caiu nas mãos de alguém especial. Ou ainda está presa no paralelepípedo que serviu de apoio para escrevê-la.
Deixa estar. Vou esquecer de mim por um tempinho e vou observar aquele que passa. Será que ele esqueceu o dinheiro do pão, por isso sai injuriado da padaria? Ou aquela mulher, sentada no banco da praça, espera que o seu amor não esqueça do encontro marcado?
Quer saber? Lembrar, esquecer. Tudo isso parece mais aquelas frases loucas que sempre ouço do meu primo Fábio. Se estivesse aqui diria: _Ingrid! Esquecer é como a chuva, psicológica!