Ligo a televisão nesse hotel. Estou esperando uma entrevista, por isso, não sei a hora exata que sairei daqui. O Domingo parece sempre o mesmo. Os mesmos programas e as mesmas pessoas falando a mesma coisa. Resolvo assistir a um jogo de futebol. O estádio San Mames em Bilbao, Espanha, está cheio. Os times entram em campo para mais uma batalha. Athletic de Bilbao, o time da casa joga contra Real Madrid. O todo poderoso de Madrid começa a se colocar em campo como uma equipe grande, e penso : esse time basco vai acabar levando uma goleada no seu próprio estádio. Logo no começo, vejo o técnico desse time mandando os jogadores voltarem para marcar. O meu pensamento é um só: que time retranqueiro! Meu Deus, quanto medo de atacar! E como o ditado mais simples do futebol, aquele que joga com medo de perder, nunca ganha, fico imaginado a derrota final. Mas os jogadores bascos acabam não ouvindo as súplicas do seu técnico. Fazem um a zero logo no primeiro tempo. Fico espantada com a reação. As coisas não estão indo como imagino. Perai! Estão sim. O Real Madrid empata o jogo no final primeiro tempo.
Jorge chega no intervalo do jogo. Conto para ele o que acontece e ele logo retruca. _ Ingrid, no final o Real Madrid acaba ganhando e você sabe por que? Pelo simples fato do time de Bilbao "pensar pequeno". Quem pensa grande ganha as batalhas. Fico imaginando que nossa vida também se resume a isso. Temos tanto medo de perder, que acabamos não acreditando que podemos vencer. Não lembro da atriz que disse isso em uma entrevista: quem tem medo da crítica nunca poderá ser uma pessoa famosa, rica ou feliz. E é verdade, ninguém consegue o que quer se ficar em casa pensando no que dará errado.
O segundo tempo começa. Já não sei o que pensar. Sou uma pessoa sem rumo no meio de tantos jogadores. Meu chefe me belisca e diz que temos que subir para a entrevista. Queria tanto ver o final do jogo! Queria saber se os jogadores do Athletic vão suportar o peso do Real Madrid. Mas não dá, tenho que trabalhar.
Chego em casa e lembro que a tv espanhola repete os jogos, vou ver o que perdi. Jorge assiste também e aposta uma coca-cola a favor do Real. O segundo tempo começa. O Real Madrid faz 2 a 1 em apenas 5 minutos e eu quase perco a esperança. Porém, para minha surpresa, Julen Guerrero começa a jogar bola. Bate uma falta com perfeição e empata o jogo. Faltando 15 minutos para o término da guerra campal , o mesmo Guerrero solta uma bomba de fora da área. Gol do Athletic de Bilbao. Não acredito no que estou vendo. Comemoro como um gol do Brasil em final de Copa do Mundo. Jorge quer me bater e diz que eu `gorei". Na saída para o vestiário, Julen Guerrero diz aos repórteres o que eu queria ouvir. "Não adianta temer o adversário. O negócio é fazer o que você sabe e ir para a luta".
Essa história aconteceu há alguns anos. Lembro dela ao assistir um documentário sobre o Athletic de Bilbao. O clube caracterizado por sua garra centenária. Para falar a verdade, nessa temporada ele não está tão garrido assim. Dia desses o Barcelona venceu a turma basca por 4 a 0. Mas só em saber que aqueles jogadores são como eu, já basta para assistir seus jogos. Esse time não se entrega nunca. Mesmo que o adversário seja o "Real Madrid", sou capaz de pensar grande e transformar um jogo perdido em uma vitória perfeita.