A semana se arrasta. Como diz Miguel Fallabela: cola a barriga no chão e ondula as horas, como uma cobra sem destino.
Quarta-feira. Ainda! É o tempo que não passa. Por que há dias em que nem um bom banho ajuda o corpo a levantar? Nessa manhã, estou estática na cama.
Resolvo cancelar o meu projeto de hoje. Estou cansada. Quero me dar ao luxo de ficar caída no quarto, assistindo televisão.
Por que os piores programas passam justamente pela manhã? O horário infantil é mesmo muito ruim. Tenho pena das crianças.
Hoje não é feriado. E lembro disso ao ouvir o telefone tocar. "Você não vem? Não trabalha mais? Onde está a matéria que pedi?" Nem respondo. Assisto um ou dois filmes. Pela décima vez passo os olhos no documentário sobre Bin Laden (Ele tem uma cara de preguiçoso, não?)
O interfone toca. Uma velhinha do décimo terceiro andar pergunta se posso revisar algumas de suas poesias. Quero dizer não. No entanto, tomo outro banho e bato na porta da senhora que me espera.
Dona Angelina é uma velhinha simpática, que adora Dança de Salão e poesia. Vira e mexe encontro com ela recitando textos no parque da esquina. Poucas vezes vi uma pessoa tão cheia de vida, com tanta coisa ainda por fazer.
Seu apartamento é decorado com livros. Muitos deles. Fico espantada com o que vejo. Minha preguiça enfim faz as malas e parte.
A velhinha diz que precisa de novas palavras para o sábado e, secretamente, acho que essa é uma boa expectativa para o final de semana. Por minutos, ela me pergunta uma ou outra coisa. Mostra fotos antigas. Brinca com alguns autores.
A tarde passa como um meteoro. E como mágica, começo a ter vida novamente. Não quero mais ficar de cama. Não desejo apenas estar. Quero trabalhar, escrever, ler, sair com amigos. As pessoas, os lugares, todo o meu trajeto se reinventa como em um movimento de balé.
Que a noite me leve para todos os lugares. E que eu esteja bem perto do recomeço.