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cronicas-->Grotesco -- 15/06/2002 - 18:12 (Sergio Musetti Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Que São Paulo é a capital das coisas estranhas isto ninguém duvida, mas o que eu presenciei há poucos dias foi algo completamente inusitado, mesmo em se tratando desta maravilhosa cidade. Para variar, como um bom paulista, eu estava atrasado e preso no trànsito. Tinha que aguentar um ónibus lotado e quente, além de sentir os solavancos do anda e pára que os motoristas adoram fazer. Ao meu lado havia uma japonesa escutando seu walkman em uma altura considerável, o que irrita qualquer pessoa que não tenha parentesco com uma barata. Ao menos eu consegui sentar junto à janela e pude apreciar a beleza cinza e encantadora da minha cidade. Os ambulantes vendendo de tudo em todos os faróis, crianças remelentas pedindo trocado e pessoas vestidas em ternos e metidas em seus óculos de míope circulavam harmoniosamente pelas ruas, enquanto olhos vivos, não apenas os meus, observavam tudo como bons voyers que somos por excelência.



Tudo estava como sempre, quando o ónibus parou na rua Treze de Maio para alguém subir no veículo. Meus olhos se fixaram em um mendigo que sempre fica naquelas redondezas e comecei a pensar como deve ser a vida de uma pessoa naquela situação. Não sei se aconteceu por uma mórbida coincidência, mas o pedinte se levantou olhando fixamente para a lateral do ónibus, arriou suas calças e passou a defecar no meio da rua, de pé, com o tronco pendendo para baixo e mantendo seu olhar compenetrado no veículo. Póde se escutar alguns murmúrios de reprovação e muitos risos, o que me deixou constrangido, pois o mendigo fazia o que tinha que fazer bem na minha frente, sem algum vestígio de pudor. O pior foi que, ainda se aliviando, o rapaz (que deveria ter seus trinta e poucos anos) levantou seu olhar para a minha janela, olhou fixamente em meus olhos, o que aumentou meu constrangimento, e começou a rir. Nesse momento o ónibus inteiro caiu na gargalhada.



Quando o veículo continuou a andar, o mendigo foi para o meio da rua e passou a pular com os braços estendidos, como se comemorasse uma vitória. E acho que ele teve inúmeros motivos para celebrar, já que, aparentemente, não havia nada o prendendo a nada; apenas sua demência, que o fazia ser espontàneo e original. Sim, admito que senti inveja daquele ser humano que namorava algo que todos tentam há tempos conhecer: a liberdade.

Sergio Musetti Junior

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