De repente te descubro, Paraíba, arrastando-te lànguido, espraiando-te de amor com a terra que te serve de leito aqui.
Aqui te encontro amante de cais e cidade toda lavando-se a seus pés, recebendo-te porque és água, assim como sou ruído,riso, rio e calma presença plena de turbulências interiores e movimentos de onda sem mar nem porque.
Porque te vejo (escuto) vivo de direções, carregado de alma, corpo e espaço, e também, sou cidade buscando berço e sobrevivo magicamente em similaridade contigo, que és coisa que pede, provoca, incita à permanência de te beber com olhos e até me leva a agradecer, banhada em humildade, o beijo que plantas, dia e noite, margem a margem, porque és água, e como água que és, entendo-te como dádiva, e te amo.
Te amo, tensa, diante de tua realidade-água.
Líquida de horizontes, sem navios, nem pranchas, nem barco, nem lanchas, embarco num pé-de-vento. Sou vento vendendo-se em porções ilimitadas de ares, parado ante a claridae, morto de medo da morte maior, que é a falta de esvair-me nessa fluidez primitiva que me põe rio.
E rio, diante da lentidão turbulenta das águas, eu-fio, mas fiapo de existência, porque me dei mais simplesmente a ser cidade e quase me esquecia de quando planície e carinho, como também, da amplidão dos claros selvagens campos de cana de onde brotei fluido. Mas ainda lanço corpo, levo águas, me lavo de invenções de vida.
Do livro "Vácuo e Paisagem"_ poesia e prosa poética.