No fim do ano letivo, na semana que antecedeu as provas finais, Jacira, aquela discreta colega dos expressivos olhos verdes, apareceu com um caderninho de recordações. Cada colega levava o caderninho para casa e, em um ou dois dias, trazia de volta com um punhado de frases, a maior parte, daquelas bem clichê: desejo a você um futuro feliz, muito sucesso, muita realização, enfim, muito muito, etc.
Aí, ela lembrou-se de dar o caderno para o Maninho, o desleixado colega que estava sempre apressado, transpirando, falando sem parar com aquela inimitável voz fanhosa.
Ele passou cerca de quinze dias com o caderno. A cada pedido de Jacira para traz&e-lo de volta, vinha a mesma resposta:
- Calma, menina, eu estou escrevendo...
Jacira, ansiosa, ficava imaginando as coisas fantásticas que o Maninho estava preparando para ela.
Até que chegou as noite em que Maninho devolveu o caderninho.
Jacira, ávida, foi abrindo o caderno, procurando as frases que Maninho especialmente preparara para ela.
Passou e passou as páginas e, enfim, chegou à quela em que, justamente, Maninho escrevera suas palavras.
Desapontada, ela exclamou:
= Maninho, que absurdo, você apenas colocou o meu nome no cabeçalho e o seu no rodapé. Cadê as palavras preparadas para mim? Que decepção!
Calma,menina, você precisa entender. Eu preferi fazer assim: o seu nome inicia, no entremeio um vazio porque,no dia em que você estiver zangada comigo, você vai se deparar, naquele meio sem palavras, com toda pornografia existente em nossa língua, no entanto, quando você estiver pensando em mim com saudade, amor e carinho, nesse vazio você vai encontrar a crónica mais bonita, escrita com as mais belas palavras da língua portuguesa, daquele jeito que a gente nunca se cansa de ler.