Olhou para o relógio logo que despertou e, na janelinha do calendário viu que era dia 18. Pensou imediatamente no compromisso: era dia do encontro com a moça que povoara os seus sonhos mais bonitos, ela aceitara o convite que lhe fizera para irem juntos ver o DR. Jivago.
O coração disparou. Quis que a manhã voasse nas asas da Varig, bem, para não fazer propaganda, poderia ser de outra companhia qualquer. Olhava para o relógio de instante a instante e, é lógico, os ponteiros pareciam imantados, o tempo estava paradinho da silva, simplesmente, não passava.
Ficara de encontrar a bela no cair da tarde para a derradeira sessão vespertina e, o meio dia nunca chegava, quanto mais a boquinha da noite.
E crescia a ansiedade, medrava a impaciência.
Tomou um banho demorado, abusou da água de cheiro,penteou e repenteou a cabeleira, escovou os dentes, vestiu a roupa mais fina e calçou o melhor par de sapatos.
Olhou uma vez mais para o relógio: 16:30hs. Enfim, chegara o momento.
Correu até a parada do ónibus. O coletivo chegou em meio minuto. Sentou-se nio banco mais próximo da porta de saída. As ruas passavam pela janela. Olhava sem prestar atenção. No seu olhar, a imagem nítida da garota dos seus suspiros. Puxou o cordão e deu sinal de parada. O coração batia descompassadamente.Saltou meio desequilibrado, caiu numa poça d´água. Sujou-se todo. Ficou envergonhado. Teve que voltar para casa. Perdeu o horário...
No dia seguinte, um bilhetinho datado do dia 18 - aquele fatídico dia 18 - dizia secamente: "não quero mais nada com você, seu tratante".