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cronicas-->Zênite -- 26/07/2002 - 13:54 (José Ronald Cavalcante Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tinha momentos de lucidez: cofiava a barba branca, enorme, olhava fixamente para o interlocutor e respondia, sempre enxertando algum latim que, seguramente, tinha tudo a ver com o assunto entaboldado.
Depois, retornava aos páramos longínquos de uma demência inexplicável para aquele homem tão versátil e de tão aguda perspicácia.
Era duro, para os colegas de turma, vê-lo,longos cabelos ao vento, roupas esfarrapadas, fazendo discursos para uma assembléia invisível, tecendo argumentos filosóficos sobre acontecências cotidianas, verberando, outras vezes, contra medidas inintelegíveis tomadas Deus sabe por quem.
E os passantes, que não tinham ciência da sua formatura, tinha-no apenas como um mendigo louco, esfaimado, falando ao léu.
Quando o vi pela primeira vez, tomei um choque. Logo me advertiram que se tratava de um advogado ensandecido, que ao perder a lucidez abandonou ou foi abandonado pela família, colegas e amigos.
Fiquei refletindo longamente sobre o efêmero e a insegurança dramática desta vida. Muitas e muitas vezes, um jovem modesto, mercê de uma dedicação e esforço muito grandes, consegue suplantar as barreiras e chegar à colação de grau, noutras palavras, vira doutor. Atinge, portanto, o zênite, o apogeu, a culminància. Todavia, soprando leve como um zéfiro repentino, chega precoce a demência e arremessa todo auqle ingente esforço para o lixo...Restará, depois, o espectro trágico-cómico daquilo que foi, agitando as mãos, gesticulando, falando os fiapos da cultura que amealhou.
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