Fora um longo sonho. A essência dele lhe parecia ser um sentimento de perplexidade diante de uma justiça ou de símbolos supostos como imaculados da sociedade que não correspondiam ao seu valor corrente, ou o que deles se esperava. Pensando nisso agora, achava que correspondia a fatos recentes sucedidos com ele e sua família junto à suposta "justiça", assim como fatos do noticiário dos últimos dias, à nível tanto nacional quanto internacional, que reforçavam esse sentimento.
Poderia tentar, através do voto, mudar esse estado de coisas, mas conseguiria? Procurava, entre todos os candidatos, algum que merecesse crédito, mas sempre havia aquela desconfiança... Até que não era tão ruim assim de voto, pelo menos não tinha certos arrependimentos,,, não dera o seu voto para certos falsos ídolos... de pés de barro... Mas, pensava que nem todos compartilhavam desse mesmo amadurecimento.
Será que, de novo, a maioria se deixaria levar por aqueles argumentos mais demagógicos, pelas falsas promessas de campanha que nunca se cumpriam? Ficava sempre a dúvida... E os compromissos assumidos em campanha que deixavam o eleito, já de saída, completamente envolvido e enredado? E o FMI, que já estava exigindo "compromissos de transição" dos ainda candidatos? E a disparada cambial do dólar? E o nível do endividamento externo e interno, que fora multiplicado muitas vezes pelo atual governo? E, que, ainda agora, no seu final, ainda se endividava mais? E os escàndalos financeiros e de todo tipo que, a todo momento, surgiam, e que provavam, de novo e sempre, que a impunidade reinava absoluta? E lá na "matriz", o envolvimento do presidente, do vice, em "jogadas contábeis", que se multiplicavam pelas grandes corporações financeiras, e que envolviam somas absurdas? E de como a debilidade económica do país, face à uma política económica monetarista, que mantivera, a um custo por demais elevado, económico e social, o todo-supremo real em seu trono santificado, tornara nossa economia presa fácil de qualquer manobra oportunista dos grandes bancos multinacionais e dos seus interesses do momento! E de como os "Cacciolas da vida" sempre levavam vantagem, enquanto os trabalhadores, os jovens que tentavam ingressar no mercado de trabalho, os aposentados e pensionistas que de há muito haviam dado a sua quota de energia, sacrifício e trabalho, acabavam sempre prejudicados, de uma forma ou de outra? Fosse pelos aumentos da carga tributária, dos preços, da inflação, ou de medidas arbitrárias tomadas pelo governo, que até mesmo afrontavam a Constituição e a legislação vigente? Tudo em nome de uma política económica ditada, principalmente, pelo FMI, e que privilegiava os interesses dos "grandes" países e das grandes corporações financeiras, em detrimento dos países do "terceiro mundo", os chamados "periféricos" (aliás, uma expressão perfeita para designar a extrema dependência destes últimos em relação aqueles primeiros).
Acabara de assistir à entrevista de um mafioso, procurado pela polícia italiana há longo tempo, e que vivia há vinte anos como um cidadão decente e pacato em Jundiaí-SP, convivendo com a nata da sociedade local. Ele dissera ao repórter que com dinheiro se consegue tudo no Brasil... E para provar o que dissera, exibiu, diante das càmeras da TV, carteira de identidade, CPF e carteira de motorista, todos documentos legais, emitidos pelos órgãos competentes, e que lhe haviam custado 25 mil reais... É preciso dizer mais alguma coisa?