Chegou em casa como se fosse um hóspede que estivesse devendo o aluguel, abrindo a porta de mansinho, pisando de leve, procurando se esgueirar pelos lugares mais escuros e evitar de esbarrar nos móveis e objetos ao longo do trajeto.A alma, dentro do corpo, procurava um jeito de se acomodar, mas parecia que ou o corpo era pequeno ou a alma era grande demais. E, ainda por cima, aquele sufoco na garganta, aquele nó no peito, aquele agonia que enchia de ládrimas o reservatório interior que acabava por extravasar no pranto que descia morno pelo rosto.
Nunca, na condição de homem adulto, sofrera tanto aperto no seu coração, tanta humilhação, tanto isolamento.
Quase náo conseguiu chegar ao quarto. Colocou a pasta na prateileira, tirou os sapatos e as meias, desfez o nó da gravata e, mesmo sem tirar a colcha, desabou sobre a cama.
O pensamento buscava uma origem para tanta decepção, tanto fel na sua boca...
Mas, por maior que fosse o esforço, não seguia a trilha que indicasse a causa.
Fez o sinal de cruz, orou demoradamente, pediu reforço para sua fé combalida e, lentamente, foi sentindo um torpor invadir o seu corpo cansado e, por bênção do Senhor, adormeceu profudamente.