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cronicas-->Descendo a Rua -- 12/08/2002 - 01:28 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Descendo a Rua

Abilio Terra Junior


De frente para ela, e sentia que era difícil se comunicar. Ela parecia que tinha algum problema de comunicação, calada ou dizia quase que monossílabos. Era jovem e tinha traços bonitos, mas era meio estranha. Pensou até em desistir, deixar pra lá, quem sabe a moça não era meio problemática? Acabara de conhecê-la, estavam em uma esquina bem movimentado do centro da cidade. Acabaram, por fim, chegando à uma conclusão, descer a rua onde estavam, já que ela não topara subir a dita rua.
Foram descendo, ele meio na dúvida, tentou uma cantada mais rápida, mas ela não mostrou interesse. Chegaram em um bar de terceira categoria, e ela o apontou, entraram, se sentaram à uma mesa. O ambiente não era grande coisa. Pediu um prato de carne e cerveja. A carne que veio era de assustar, um gosto desagradável, aí ela se manifestou, reclamando... Nenhum dos dois conseguiu comer. Ele preferiu não reclamar, pois aquele ambiente não despertava muita confiança... Ele tentou algumas perguntas, mas ela deu a entender que estava se sentindo meio acuada...
Dali partiram para outro bar, descendo ainda a mesma rua, com um ambiente semelhante ao outro... No primeiro bar, ela quis fumar e ele fez o pedido de um maço, que ela esqueceu lá... Assim, acabou pedindo outro maço no segundo bar. Notou que ela fumava de um modo diferente, como se fumasse... outra coisa. Sugava o cigarro com energia, e sua forma de segurá-lo também era pouco usual.
Pela conversa, ele foi deduzindo que ela era viciada em entorpecentes. Daí, possivelmente, aquelas suas atitudes incomuns. Mas, para sua surpresa, em certos momentos ela dava respostas absolutamente lúcidas, como se saísse daquele estado de torpor.
Ele tentou se aproximar mais dela, mas percebeu que, provavelmente, não fazia bem o seu tipo. Tanto no primeiro, quanto no segundo bar, ela se interessara por aqueles tocadores de discos automáticos, e ficava escolhendo músicas, com algumas fichinhas nas mãos.
No segundo bar, havia uns caras bem novos, com um aspecto desagradável para ele, mas que pareciam agradá-la. Talvez já se conhecessem... Começou a ficar desconfiado. A custo, deu-lhe um beijo, e lhe disse alguns galanteios. Ela respondeu que ele a estava surpreendendo.
Parecia que um dos tais caras a estava paquerando, dançando e olhando para ela. Chegaram umas moças e uma delas parecia ser namorada, ou coisa que o valha, do tal cara. Ele se levantou, foi ao banheiro, já haviam tomado outras cervejas, e, na volta, notou que ela estava escolhendo músicas lá na tal geringonça, com os dois pentelhos, um de cada lado dela, e um lhe deu um beijo, de leve, no pescoço.
Tentou chamar a moça que parecia ser par do tal dançarino, para dançar, como uma forma de se vingar, mas ela lhe deu o contra:- vá ficar com sua mulher!
Em certo momento, ela abriu sua carteira e mostrou algumas notas de 50 reais, parecia ser uma resposta à uma pergunta que ele lhe fizera, se estava passando algum aperto, junto com sua família. Surpreendeu-o mais uma vez. Ele havia lhe dito também que era bom de cama, na tal cantada que lhe dera, o que não parecia ter provocado nela qualquer reação visível.
Em certos momentos, ela havia puxado assunto com outra mulher, perguntando sobre músicas, lá próxima da tal geringonça, mas a mulher não lhe dera muita confiança. Pediu, também, uma bebida que ele não conhecia, seria algum código? A bebida veio, e não tinha nada demais.
Mas, estava se sentindo cada vez menos confortável naquela situação. Assim, decidiu ir embora. Levantou-se da cadeira, deu uma olhada para o fundo do bar, ela continuava escolhendo músicas naquela geringonça, junto com os dois pentelhos. Pediu a conta, pagou, e foi embora.
Subiu a rua em direção à avenida, para pegar o seu ónibus, com uma sensação entre frustrado e aliviado, não sabia diferenciar bem...





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