Uma caixinha de surpresa. Uma caixa bem grande chega em minha casa. O porteiro reclama: _Mas que diabos de caixa grande é essa? E vem de longe. PORTUGAL! No meu prédio, a discrição é péssima, já contei. _ Coloca no elevador que eu pego - disse com voz de felicidade. Uma caixa grande. O correio me faz feliz, não tanto quanto a pessoa que me manda um lindo livro que quero ler desde um bom tempo.
Caixas de correio me deixam nervosa, não vou negar. Durante muitos dias, corro atrás delas. Em outros, fico parada na fila do correio, mando minha mísera cartinha, e olho para os pacotes que viajam mundo e que ainda não chegam em minha casa.
O medo de morrer sem ao menos receber uma caixinha já ficou na minha cabeça. Ou até, como naqueles filmes, em que depois de meio século, chega a carta do grande amor, extraviada há anos. Medo bobo, desleixado, mas que ficou em mim por alguns dias.
Hoje levo esse medo para bem longe, pois de Portugal chega a felicidade. Pesada, colorida e amigável.
"sento-me no cimo de meu próprio lixo e sorrio. Espero que cheguem outros dias com algum sonho, ou destino, mais feliz".
Que venham gritos do porteiro e reclamações no prédio. Mas que não falte (nunca) a continuação da amizade vinda de uma caixa grande que me faça rir do meu próprio "lixo" - medo.
