O guri se queixava que os amigos maiores batiam nele. Fica em casa, dizia o pai, de saco cheio. Mas não, não podia deixá-lo trancado por causa de meia dúzia de pivetinhos. Tinha de resolver o problema.
Um dia, chegou em casa animado, cantarolando. Dia seguinte, parou um caminhão de entregas e descarregou umas caixas grandes. Deixem na garagem, comandou. A família curiosa: que que é isso?
Vieram os técnicos, se trancaram na garagem; mais tarde o pai veio com um gravador na mão. Fala alguma coisa aqui, disse pro filho.
Dali a pouco - tchan, tchan, tchan - saiu da garagem um menino arrumadinho, jeito de manequim de loja, que andava com as pernas meio desengonçadas. Este é o teu novo amiguinho, disse o pai. Vai te proteger daqueles marmanjos. Era um robozinho, última geração. Estava programado para atender à voz do menino. Falava três idiomas, era faixa preta de judó e tinha força de uns três adultos. Dê uma ordem a ele, falou o pai. Que paulada! - exclamou o menino admirado. O robó correu pra pegar um cabo de vassoura. Todos se jogaram atrás do sofá. É, faltavam ainda uns pequenos ajustes!
O menino saiu de casa, apresentou o novo amiguinho. Que cara de panaca! - disse o marmanjo que liderava a turma. Pimba! Levou um trompaço no nariz. Os outros quiseram reagir, quando viram já estavam no chão. O menino todo bobo. Este é meu amigo Van Damme; de agora em diante quem se meter comigo vai ter. Podem avisar pros outros sacanas. O líder levantou-se do chão, nariz sangrando. Sobe na árvore, vai pegar meu casaco que jogaram lá faz uma semana - falou sério o guri. O cara foi lá, nem chiou. Agora vocês, vão buscar as minhas figurinhas em casa.
Assessorado por Van Damme, passou a comandar a turma. Deitava e rolava; agora fazia aos outros tudo que lhe haviam feito, com alguns acréscimos. Até o dia em que os circuitos de Van Damme pifaram, o robó pirou, apenas girava em círculos. Era fabricado no Paraguai.