Qual seja a análise que se faça, o Brasil está literalmente entregue ao caos. Verdadeiro maquiador de defuntos, Fernando Henrique Cardoso tenta mostrar ao mundo, que preside um país onde tudo está na mais perfeita ordem. Discursa como se fosse o mais correto dos homens.
Oito anos depois, FHC provou que a sua tão propalada competência não passava de promessa de palanque, onde normalmente todos os candidatos atolam. Encurralado pela corrupção, que sob sua complacência se instalou no governo, o Presidente da República tenta sair impune, transferindo a responsabilidade de seus erros ao seu sucessor. Como o apagão, o encontro com os presidenciáveis é mais uma imunda jogada de marketing que irá beneficiar, simultaneamente, FHC e José Serra.
Nenhum dos candidatos tem o que falar. O presidente não pode querer explicar o inexplicável. Dizer que o acordo com o FMI foi bom para o Brasil é passar um atestado de ignorància contábil. Aceitar o convite de FHC é o mesmo que decidir jogar contra a banca em uma mesa de black Jack, o bom e velho 21. É preciso lembrar que quando o assunto é blefe, Fernando Henrique Cardoso é professor. Recusar o convite seria subtrair do imaginário de cada candidato a rampa do Palácio do Planalto.
Calhorda com similaridade de pedigree, José Serra já começa a capitalizar em cima da versão "bom moço" de FHC. O projeto palaciano começa a dar sinais de acerto, e se os outros candidatos não abrirem os olhos poderão ser degolados pelo estratagema presidencial.
Peregrino do apocalipse, FHC percorre o Brasil bravateando os feitos que não fez. Insiste em dizer que tudo vai bem, e que o brasileiro está tão acostumado com crises que já pode ser considerado um piloto de provas. Infeliz em suas declarações, o Presidente da República certamente se calaria se soubesse o que o brasileiro vem passando.
Enquanto seus asseclas vivem silenciosa e nababescamente, propulsados pelas vagas imundas de um mar de corrupção, o povo se sujeita a situações desumanas para tentar sobreviver. Esta semana, uma notícia fez com que cada cidadão parasse e refletisse sobre a realidade do país. Por alguns momentos, como se fossem eternos, as páginas de um jornal deixaram de ser viradas para um hiato de reflexão. Atónito, o leitor se deparou com uma notícia que estampava, mais uma vez, a irresponsabilidade de um governo omisso. Uma família paulistana vive dentro de um banheiro público abandonado. Os três, um casal e uma menina de onze anos de idade, conseguem, depois de vencerem a cotidiana batalha pela vida, sonhar dentro de um insalubre e ínfimo espaço de três metros quadrados. Menor e mais virulento que o banheiro transformado em lar só mesmo a mente do Presidente da República.
Dignidade humana não se alimenta de discursos e estatísticas. Dignidade é um direito adquirido pelo homem ao nascer, e ninguém pode furtá-lo. Infelizmente, alguns criminosos, fantasiados de sociólogos, conseguem tal proeza ao se preocuparem, apenas, com a própria vaidade. Tendo a muralha da corrupção como escudo, FHC sofre de uma irresponsável cegueira administrativa que acabou com o Estado sem ao menos agregar algo ao nosso património. O inexplicável aumento da dívida não contribuiu em nada com o desenvolvimento do país. A liquidação promovida pela privatização arrecadou uma montanha de dinheiro, investido exclusivamente no pagamento de juros e dívidas. A mal fadada CPMF, que deveria ser destinada à área da saúde, foi parar nas mãos dos credores, enquanto milhares de brasileiros morrem nas filas dos hospitais.
Fernando Henrique Cardoso conseguiu, enfim, o que queria. Passou para a História. Algoz de um povo trabalhador e criativo, FHC fez com o Brasil o mesmo que Aquiles com Heitor, após este ter matado Pátroclo. Inerte como o poderoso personagem da Ilíada, FHC matou o povo brasileiro e agora desfila com o cadáver amarrado à carruagem, gazeteando o seu feito como se fora alguma proeza.
Sem querer fazer qualquer viagem a um passado remoto, comparar FHC a qualquer personagem da História seria conferir-lhe importància. Então, como compará-lo?
Donos de poderes distintos, FHC e Fernando Beira-Mar, este último o mais ousado traficante brasileiro dos últimos tempos, são responsáveis por uma inusitada situação de perplexidade.
Beira-Mar é o senhor do poder paralelo, e FHC de um poder sem paralelo. Se mentir é um ato criminoso, FHC pode ser considerado como tal. Para chegar ao poder prometeu coisas que não cumpriu. Levou o Estado a não prover o básico garantido pela Constituição e, principalmente, o mínimo de dignidade exigido pelo bom senso humano.
Por sua vez, Beira-Mar cresceu na falha do poder estatal. Supriu o povo com tudo o que o governo não fornece, fazendo o seu negócio crescer de uma forma sem paralelo algum. Eis o poder paralelo sem nenhum paralelo.
Criminalidade à parte, o poder de organização dos traficantes chega a ser invejável. Conseguem, em minutos, o que políticos demoram anos. Por puro interesse estão, permanentemente, em contato com o povo. Pagam para não assistirem ao impedimento do próprio negócio. Infelizmente também matam. Se ao invés de drogas comercializassem algodão doce, seria o melhor exemplo de eficácia organizacional.
Mas o que FHC tem a ver com Beira-Mar?
Tudo!
Como a vida é cheia de coincidências, ambos foram batizados com o nome de Fernando. São egocêntricos, megalomaníacos, vaidosos e donos do poder. Escondem por trás da doce aparência, uma violência ácida, cada um ao seu estilo. Só quem conhece os escaninhos dos dois poderes sabe avaliar. A única diferença entre os dois é que Beira-Mar cumpre aquilo que promete. Seja o que for, até mesmo a morte. Beira-Mar alcançou o poder fazendo da droga o seu trampolim. FHC fez do seu trampolim ao poder, uma grande droga.
Mas o Brasil é maior do que os interesses espúrios de FHC e Beira-Mar. O Brasil precisa do patriotismo continuado de seus cidadãos. Precisa da coragem de uma gente que não tem medo de ser feliz.
Mas que país é este?
Este é o país dos dois poderes.