Todo mundo sabe de cor quem foram os grandes heróis da história da humanidade, como aquele cara que inventou o antibiótico, o Dr. Flaming, ou aquele outro que pasteurizou pela primeira vez o leite (aliás, de acordo com a biografia não autorizada de Louis Pasteur, escrita por William Hupletorph, o francês simplesmente "inventou" a pasteurização porque era uma pessoa volúvel ao extremo - num instante, gostava de leite bem quente, pelando, e de repente mudou de idéia e resolveu bater o leite bem gelado com Toddy, matando assim a maioria das bactérias que dão aquele "gostinho de leite tirado na hora", que nunca mais pudemos saborear). Freud é o maior: descobriu um jeito de ganhar muito dinheiro sem precisar fazer absolutamente nada, podendo até dormir no emprego. Ou ainda Graham Bell, que inventou aquele aparelho que só dá ocupado nas horas mais críticas. E tantos outros, como Einstein, Thomas Edson, Stephen Hawking, Pelé, o Homem-Aranha e o Beijoqueiro.
Mas poucos conhecem os outros heróis da história, que nunca ganharam fama nem dinheiro, aqueles inventores caseiros, cientistas de fundo de quintal, que dedicaram toda a sua vida à s novas invenções em busca simplesmente do bem da humanidade, do reconhecimento, dos dólares das patentes e da casa em Angra dos Reis. Desses, que a história insiste em ignorar, infelizmente temos pouquíssimas informações, pois em geral são pessoas muito desorganizadas, que não possuem o método científico adequado à s suas empreitadas e que geralmente terminam internados em hospícios ou sequestrados por extraterrestres.
Para nossa alegria, foram encontrados recentemente os restos do diário de pesquisas de um dos mais influentes cientistas do bairro do Tamanduá, em Cornélio Procópio, o Incrível Dr. Pestana. Pelo que sobrou do diário (que está disponível na internet através do site www.drpestana.com), podemos perceber que ele era um gênio incompreendido, miserável e que tinha uma letra horrível. Selecionei alguns trechos, para que possamos nos infiltrar nesse território fértil dessa mente brilhante.
28 de julho de 1943
Finalmente resolvi o problema que me atormentou durante toda a madrugada. Durante nove dias seguidos dediquei-me à s minhas pesquisas com mandrovás, tentando compor um combustível renovável altamente eficiente e seguro, pois sabemos que aproximandamente em 1998 os carros precisarão de muita energia para voar e o petróleo já terá se esgotado. Descobri que, ao amassar 150 gramas (cerca de dez) mandrovás gordos, 20 gramas de fubá Mimoso e uma dose de cachaça, compus uma massa explosiva de alta potência. Basta que uma pequena corrente elétrica, como a de uma pilha de 1,5 Volts, passe através de uma barra moldada com a massa. Amanhã irei testar meu aparato experimental com 5 gramas de massa de mandrová no Tico, um dos 14 gatos da vizinha, a Dona Argália.
29 de julho de 1943
Sucesso! A pasta explodiu fazendo muito barulho e abriu uma cratera de 80cm de diàmetro na terra. Preciso manter sigilo absoluto do meu projeto, pois desconfio que estão me espionando. Ainda ontem, logo depois de capturar o Tico, pensei ver a cabeça da Dona Argália espiando por cima do muro. Da próxima vez, acertarei a cabeça dela com minha atiradeira de mangas podres que uso para atordoar os gatos.
02 de agosto de 1943
Este maldito bairro está me consumindo. Todos conspiram contra mim. Esta é uma terra de escroques e patifes, todos querendo se aproveitar da minha genialidade. Liderados pela minha arqui-inimiga, D. Argália, querem me expulsar do bairro. Por outro lado, meus experimentos estão melhorando a cada dia. Depois do sucesso da explosão do felino, acrescentei um ingrediente que deu mais potência à mandrovite (este é nome que terá o combustível quando finalmente eu o comercializar em larga escala): cabelos humanos picados. Testei o produto final em outro gato da D. Argália, o Bilau, e a explosão foi tão forte que um pedaço da coluna vertebral do felino voou em minha direção e arrancou minha orelha direita. Preciso ser mais cuidadoso com a mandrovite.
06 de agosto de 1943
Estou bastante excitado hoje. Testarei uma nova composição da mandrovite, utilizando 10g a mais de mandrovás gordos especiais, trazidos dos coqueiros de Salvador pelo meu cunhado, o Aristides. Vou colocar a massa numa lata de óleo e ligar o fio na tomada de 220 Volts. Quero analisar o comportamento da mandrovite com a corrente alternada. Sinto que minha glória está perto, e que enfim terei meu nome nas alturas! Há Há Há Há Há!!
Podemos sentir o grau do excitação do Dr. Pestana ao lermos os "Hás" no final do último parágrafo do seu diário. Imagino aquele velho senhor, de guarda-pó, no meio da sua cozinha imunda, esfregando as mãos e rindo sozinho, olhando por sobre os óculos de fundo de garrafa e escrevendo animadamente no seu pequeno livrinho. Quem, em Cornélio Procópio ou no mundo, poderia imaginar que atrás daquele velhinho insano e sujo estava um gênio?
Estas notas foram encontradas a 10km do local onde antes ficava a casa do Dr. Pestana, onde ainda hoje existe uma cratera de 30 metros de diàmetro por 10 metros de profundidade. O Dr. Pestana nunca foi reconhecido pela comunidade científica. Nem mesmo seu corpo foi encontrado. Mas o que sabemos hoje é que o exército Norte Americano comprou, entre 1943 e 1951, carregamentos gigantescos de mandrovás das regiões Norte e Nordeste do Brasil.