Olhos imensos, cabeça grande e redonda, fala sincopada, gestos exagerados, Océlio era o que se pode chamar de um jovem feio.
Deus, para compensar, deu-lhe uma inteligência privilegiada, principalmente, para satirizar.
Dizem que ele encheu-se de paixào não correspondida por uma das moças que moravam naquela quadra da Avenida do Imperador. Na realidade, não se sabe bem qual delas. Mas, o fato é que Océlio, que já era uma pessoa arredia, ficou praticamente enclausurado, quase nunca saía de casa, a não se para frequentar o colégio, mas saía se esgueirando, procurando não ser visto.
Seu irmão, uma pessoa absolutamente normal de aparência, costumava dar explicações:
- Ele vive estudando, não gosta de conversinhas. Diz aque não tem tempo a perder.
Até que as cartas começaram a aparecer. Eram cartas anónimas terríveis, desestabilizando a pacata avenida de costumes tão familiares e amistosos.
As moças desfilavam nas linhas daquelas cartas como pessoas pervertidas, de costumes devassos, fazendo gestos obscenos e namorando escandalosamente, tudo num tempo de costumes muito rígidos e em que tudo era proibido.
Uma dessas cartas, não sei qual delas, veio-me à s mãos. Lí mal contendo o riso, tal a sorte de maluquices escritas com muita pimenta e com caprichada redação em boa português.
A rua toda entendeu de acusar o Océlio, o estilo, diziam, era dele, a redaçãO apurada, a satíra contundente e ferina, a observação detalhada da vida daquela comunidade simples da década de sessenta.
Depois, o Océlio sumiu. Nunca mais se ouviu falar dele, se fez sucesso na vida e alcançou aquilo que sonhava, se continuou compondo músicas, se, enfim, conseguiu ser gente na vida.
Mas, apesar do estilo semelhante ao dele, jamais ficou realmente provado que ele foi o autor das famigeradas cartas anónimas.