Passou a mão no queixo e ficou imaginando o que iria escrever. A tela do monitor, totalmente vazia, clamava por algo para torná-la repleta de letras, estuante de vida, nem que fosse vida cibernética.
Juan Soto estava indignado. Ele, que sempre tinha algo na ponta dos dedos para escorrer no teclado, permanecia estático, ruminando lembranças disparatadas, frases soltas e desencontradas, episódios mesclados e confusos, histórias inconclusas, sentimentos antagónicos que lutavam ferozmente dentro da sua mente, impedindo que o raciocínio adquirisse uma trajetória lógica.
Imaginou: será que estou ficando louco?
Ou foi a inspiração que estiolou?
Talvez seja reflexo do cenário económico do cone sul, que tanto pesa na minha qualidade de vida. Filho da América do Sul, criado no Brasil,mas com raízes hispànicas, trago no peito um turbilhão de emoções que eclodem justamente quando algo se passa nessas plagas onde deitei as minhas raízes.Mas, este meu discurso está confuso! Eu não sou sempre assim. Tudo que escrevo tem uma lógica infalível, inquestionável. E agora, sem razão, estou inintelegível, incompreensível até para mim mesmo.
Amanhã, raciocinou, vou escrever melhor, vou apontar as mazelas dessa região tão rica e tão maltratada.
Amanhã sairei desta gaiola e vou deixar de me olhar no espelho.