Eis que é chegado o tempo das vacas gordas. Fartura e prosperidade como bem previu José ao Faraó. Já temos know-how para fazer com o mundo o que bem entendermos e isso nem sequer é mais novidade. Conseguimos produzir em áreas cada vez menores alimentos cada vez maiores. Descobrimos quase diariamente novas formas de fazer coisas que mal havíamos começado a usar. Criamos cópias de espécimes até mesmo na novela das oito e resolvemos problemas complexos que nem sabíamos possuir. É a nova era. O novo mundo. O século XXI.
Por sinal, é arrepiante, senão frustrante, estar com os pés nesse tal novo milênio. Digo isso porque, apesar de todos os avanços, olho para os lados e procuro as tais criaturas metálicas que deveriam estar andando e falando como gente mas não vejo. Vez por outra, quase como que testando nosso desenvolvimento, pergunto numa farmácia ou numa loja de conveniência se ali tem uma daquelas pílulas de almoço, café da manhã, lanche ou jantar de que tanto falavam os filmes de ficção no, há pouco ido, século passado. Nessas ocasiões, claro, obtenho sistematicamente como resposta um olhar confuso ou, o que é pior, uma risadinha de desprezo.
Mas o espaço agora é o limite. E nele procuro aquelas naves maravilhosas e intergalácticas. Menos, até. Procuro aquelas estações em que deveriam acoplar centenas de bólidos espaciais abarrotados de mantimentos, cientistas, turistas, políticos, prisioneiros perigosos e afins. Mas, mesmo isso, não vejo. Na verdade, o mais próximo que estive de ver algo similar foi quando a finada MIR foi posta ao chão. Destroços de um projeto pioneiro ardendo em fúria atmosfera a baixo. - Só fumaça.
Seria muita estupidez minha, porém, acreditar que um século ainda tão tenro revelaria suas formas assim, no primeiro raiar dos seus dias. Não é dessa maneira que as coisas acontecem e todos sabemos disso. "É preciso dar tempo ao tempo". O problema é que paciência é algo que tem se transformado em um artigo de antiquário. Uma palavra guardada apenas como relíquia literária; velho verbete dos dicionários; de significado confuso, esquecido.
Mas e daí? Podem perguntar alguns. E daí que é a paciência que nos permite esperar. Que nos dá esperança. E quando, motivados pela velocidade desse mundo novo que nos espreita ao mesmo tempo em que nos invade a vida, nos tornarmos tão ansiosos, tão sófregos, que não pudermos aguardar mais do que uma migalha de tempo por algo ou alguém, estaremos fadados ao imediatismo absoluto. Entregues à sorte do instante. Intolerantes; nervosos; perdidos.
Eis, então, que terá chegado o tempo das vacas magras. A nova era. O novo mundo. O bom, velho e familiar século XXI.