Até ontem, tinha eu,
na flor de minha idade
engasgada com o tempo,
assunto prá dar e vender.
Mas essa coisa de tempo
atordoa e vesga a gente de ansiedade.
Tola ansiedade, que cai brusca e sem touca
de proteger.
Estava eu então já com
os mais variados temas
embutidos e meditados,
sobre política,políticos,
corrupção e dinheiro, a rondar
minha cabeça inquieta.
Foi quando alguém, pecebendo
minha liquidez mental, sugeriu:
cadê aquela moça que você namorou
quando tinha 15 anos?
Tem gente indiscreta no mundo,
tem gente que quer arrastar a gente
lá pros confins do passado.
Tem gente assim.
Eu respondi suavemente, como ao cair
de uma tempestade irresponsável:
- Olha aquela moça, virou gente, depois
mulher, casou, largou o marido, me noivou,
me largou e foi ser amante do
sacerdote da paróquia.
Tudo bem, é a vida.
Coisas absurdas
acontecem toda hora!
Mas,agora,veja lá, eu posso confessar
meus pecados imaginários
com o que era, o amor eterno
de minha vida?
Com o marido ou o juntaço dela?
Por isso agora fico sem assunto.
Assunto, prá quê?
Prá jogar fora,
jogar no tempo?
Lá prás sacristias dos homens?
Que , mesmo de batina, roubam
a mulher ds outros!
Pior: agora isso é permitido.
Jesus! É permitido!
Casar até que vá lá.
Mas entrar no meu quintal
e roubar minha ave de
estimação!