A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos ocorreu entre os anos de 1835 e 1845 no Rio Grande do Sul. Naquela década sangrenta o estado se rebelou contra o Império e num 11 de setembro qualquer proclamou a República Rio-grandense.
No mês de setembro os gaúchos resgatam lembranças da epopéia farroupilha.
Heróis farrapos como Bento, Netto, Garibaldi, Anita, Canabarro e tantos outros são reverenciados em versos nos galpões, nos CTG´s, nas escolas, enfim, no Rio Grande.
Os jornais estampam reportagens sobre os revolucionários de 35 e no dia 20 ocorre o desfile da gauchada orgulhosa de seus antepassados que são lembrados como os centauros dos pampas.
Nas repartições públicas, bancos, nas lojas e nas entidades civis os funcionários trabalham pilchados (vestidos com a indumentária típica gaúcha).
Dirijo-me a uma instituição bancária para assinar um contrato de empréstimo pessoal. O funcionário, alegre e muito gentil, começa o atendimento. Estava trajado a rigor para a semana festiva em questão. Calçava botas com chilenas prateadas, usava uma bombacha preta, uma camisa branca e um lenço vermelho ao pescoço que identificava sua tradição de maragato. Um chapéu à s costas, preso pelo barbicacho, era um detalhe especial.
- Buenas tardes! - cumprimentou-me com um genuíno jeitão missioneiro.
Casualidade ou não, mas o gaudério ali em minha frente, possuía um volumoso bigode de causar inveja ao governador Olivio Dutra.
Antes de assinar o contrato, solicitei ao escriturário guasca para mostrar-me a data do vencimento. O gaúcho com aquele baita lenço e escondido atrás do bigodão, saca sua caneta, um salientador, e faz uma marca fosforescente rosa no meu contrato, indicando a data.
A mim pareceu meio esquisito e contraditório. Um "gaúcho-dos-quatro-costados", falquejado no lombo dos baguais, com uma canetinha rosa-shocking para salientar contratos.
Não pude de deixar de brincar com o vivente.
- Tchê louco! De bombacha... mas com canetinha rosa. - deixei a frase no ar.
Lasquei minha assinatura no papel enquanto o bombachudo rodopiava a canetinha rosa entre os dedos, pensativo.