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cronicas-->Um bebê do futuro -- 30/09/2002 - 16:58 (Maria Tereza Bickel Cançado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Percebi que estava no futuro, quando a minha irmã foi dar a luz. No começo, foi tudo como tem sido há milhões de anos, suponho. A bolsa arrebentou, os olhos dela se estatalaram, era tudo tão natural que imaginei que logo em seguida ela iria agachar-se para recolher seu filho por entre as pernas.
-O celular. Onde está o celular?
Em alguns segundos ela tinha contatado o obstetra, o marido e metade da família de ambos os lados. Era a primeira hora do dia 2 de dezembro de 2000. Madrugada, pois. No saguão da maternidade, vazio e silencioso, uma incrível maquina de refrigerantes iluminada como um disco voador. Meu sobrinho nasceu duas horas depois. Nasceu é maneira de dizer. Foi nascido. O obstetra tinha mais o que fazer e não poderia ficar esperando que o garoto se decidisse a vir ao mundo na hora em que passasse ou minimizasse o horror à vida. Enquanto esperava, diante da porta fechada na minha cara, nenhum som, a não ser o da minha própria respiração. Nenhum choro de bebê. Nenhum lamento. Às vezes um ranger de porta se abrindo e uma maca empurrada por um robó- suponho que fosse um robó- levando roupas para a lavanderia. E dou de cara com uma máquina mais incrível do que a do saguão.
-Boa noite. - Cumprimentei, educadamente. Ela não respondeu. Como era uma máquina de café, continuei:
-Aceito um café. - Pelo menos ela não falava, pensei. Enfiei uma nota de um real na abertura onde estava escrito "enfie aqui uma nota qualquer", segui as instruções, a tal máquina, resmungou num som de engrenagens e soltou um capuccino com açúcar e até uma colherinha!
-Meu troco! Quero meu troco! - Com desdém. Ela cuspiu, literalmente, as moedas.
Vermelha de vergonha por ter desconfiado da sua decência, murmurei:
-Está ótimo. -Ela não se dignou a responder e apitou alguma coisa, piscando uma luzinha verde. Acho que estava me oferecendo outro tipo de café. Tinha vários: café com leite, café com creme, café simplesmente, chá, amargo, com açúcar e sem açúcar. Aceitei um capuccino com chocolate e teria provado todos eles, não fosse a rapidez com que ela fazia o tal café e a urgência do obstetra. Meu sobrinho veio à luz num intervalo de um café com creme. No resto da madrugada ninguém viu o recém nascido, a não ser a mãe, é claro, porque na maternidade não existe berçário, pelo menos não igual àqueles em que a gente olha o recém chegado através de um vidro. Poderia ter sido diferente se alguém tivesse dito antes que havia uma càmera na sala de partos. Poderíamos, se quiséssemos, acompanhar a chegado do bebê ao mundo, numa tela de vídeo. Poderia também ser filmado por uma càmara digital e aparecer na rede. Por pouco o meu sobrinho já não nascia plugado na Internet. Foi o que me disseram. Na manhã seguinte, antes de pegá-lo nos braços, uma outra máquina me obrigou a apertar um botão, acionando alguma coisa que me lambuzava as mãos com um gel bactericida. " Não toque no bebê antes de 30 segundos". Entendi 30 minutos e fiquei apalermada com as mãos desinfetadas, sem ousar encostar no garoto, que por sinal é lindo como um bebê do futuro. Os bebês antigamente nasciam feios, na maioria das vezes cresciam feios e morriam mais feios ainda. Depois dos trinta minutos, peguei-o nos braços e ele me olhou com uns serenos olhos acinzentados.
-Olá. Prazer. Bem vindo ao futuro.
Tenho certeza de que ele não achou graça nenhuma.
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