Embora não estivesse na Roma antiga, jogaram-no na arena de um moderno Coliseu, no ensurdecedor alarido de uma multidão sanguinária, vociferando e pedindo a sua morte.
Olhou apavorado para os dois leões famintos e quase desmaiou de medo. Mas, segurou o crucifixo que pendia do seu peito, amarrado por uma correia de couro cru. Sua visão voltou à melhor condição. As pernas recuperaram a força, o sangue violtou a circular nas veias e ele não desmaiou. Caminhou firme na direção dos animais famintos enfurecidos, que rugiam ferozmente no centro da arena.
Um vento morno soprava sobre o novo Coliseu, mas ele se sentia gelado por dentro, inexplicavelmente retemperado por uma serenidade que somente a fé é capaz de proporcionar. Na sua face, estranhamente, um sorriso começou a se desenhar. Os leões permaneciam impassíveis no centro da arena, não se mexiam, apenas rugiam, mas o seu rugido já era menos feroz.
Aproximou-se do primeiro deles e passou a mão na juba. O felino deitou-se como se fosse um gatinho de estimação manhoso, querendo agrado.
O outro leão, veio também para perto dele e, com a outra mão, fez mesmo gesto de carícia na juba do rei dos animais. A platéia, atónita, não acreditava no que via e vaiava a administração que trouxera para a rena u m par de leões mansos.
Um espectador mais afoito, querendo provar a marmelada, aproximou-se também dos leões e quiz repetir o gesto de carícia. O leão, enfurecido, devorou-lhe a mão e o sangue espirrou sobre a areia saibrosa e poeirenta da arena.
Naquela hora, estremunhado e tonto, ele acordou daquele enigmático pesadelo.