Desde criança, encantava-me com as acácias floridas, na época do Natal e durante o verão.
Passava as férias na casa de praia que pertencia à nossa família, na Barra de Guaratiba. Lá, ficávamos rodeados de montanhas com diversos tipos de árvores, onde cantavam coleções de pássaros: sanhaços, bem-te-vis, canários-da-terra e outros de que não conhecíamos a identidade.
Bandos de andorinhas também tinham por lá o seu ritual artístico: apresentavam a sua dança, sempre à s sete da noite, horário de verão.
Mas acácia... Ah! a acácia imperial dava o "show" principal.
Esta era de grande porte e jogava ao vento os cachos dourados, tendo como fundo o azul do céu. Era um fascinante quadro da natureza.
A árvore, quase desprovida de folhas, mostrava os cachos dourados, que soberanamente refulgiam sob a luz do sol escaldante. Parecia uma miragem do deserto a refrescar-nos a visão.
Embaixo, a relva verde salpicava-se de flores amarelas. O que para alguns era um verdadeiro milagre de beleza, para outros constituía desafio e sacrifício.
A moradora da casa em frente, cansava-se de lamuriar por varrer todas as manhãs centenas de flores amarelas que faziam com o gramado verde uma aquarela sem par... Linda!
Comecei a refletir sobre o motivo de alguém reclamar de inocentes criaturas que existem unicamente para dar beleza e sombra ao ambiente.
Só então pude observar que a vizinha de frente jamais tinha olhado para a acácia, do mesmo àngulo em que eu podia vê-la.
Para mim, era panoràmica. Deleitava-me os olhos que jamais se cansavam de beber tanta beleza. Enchia-me o dia de poesia.
Creio mesmo que, se fosse no meu quintal, as florinhas jamais seriam "varridas". Ficariam ali, a cumprir a sua missão de dourar o meu chão (fez-me lembrar um outro chão, o de estrelas...) e com o tempo serviriam de adubo natural à terra.
Para que mexer com elas?
Quem sabe talvez, um dia, para a vizinha resmungona não dourem também os cachos glamurosos da beleza interior e ela também fique inebriada com o "florescer na grama verde de seu imenso jardim"?