Usina de Letras
Usina de Letras
314 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62742 )
Cartas ( 21341)
Contos (13287)
Cordel (10462)
Crônicas (22561)
Discursos (3245)
Ensaios - (10531)
Erótico (13585)
Frases (51128)
Humor (20112)
Infantil (5540)
Infanto Juvenil (4863)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1379)
Poesias (141061)
Redação (3339)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1964)
Textos Religiosos/Sermões (6293)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->IACO -- 22/10/2002 - 01:49 (alan, o Miranda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu tinha um gato chamado Iaco.
Era um gato zarolho.
Meu lindo gato branco de bolinhas pretas.
Na época eu só tinha ele e família de animal em casa,
E,
talvez por ver todo mundo
usando a boca para se dirigir ao outro,
Iaco miava muito,
como se falasse,
e, às vezes, ficávamos eu e ele
a filosofar bastante juntos,
cada um na sua língua,
e com um pseudo entendimento do outro.
O fato é que eu e meu gato nos adorávamos
e nos curtíamos muito.
E fazia questão de mostrar para todos
o meu gato branco de bolinhas pretas
que era zarolho
e miava como quem falava.
Numa dessas exposições
estávamos eu e um amigo na minha sala
enquanto Iaco passeava
lindo e grande em nossa frente,
na flor da idade,
falando ou miando sozinho,
que ele também tinha dessas.
- E aí, vai castrá-lo quando?
Como é? Castrá-lo? Iaco...? Por que eu deveria tirar os testículos do meu gato?
- Por que ele vai acabar indo para rua por causa das gatas. Tirando os testículos, ele ficará mais manso. Se ele ficar indo para a rua vai acabar se perdendo ou morrendo.
Os argumentos eram interessantes.
Iaco já tinha ido até o fundo da casa e voltado
sem parar de miar.
Agora estava deitado,
olhando pra gente todo esparramado,
me mostrando que viver,
às vezes, também é apenas isso.
Passear um pouco pela casa falando merda,
e depois, deitar e sentir a vida passar.
Meu bichinho era um mestre.
Ficamos, então, eu e meu amigo
olhando as gónadas do meu felino.
Mudos.
Apenas Iaco que,
ora miava para mim,
ora balançava o rabo,
deitado,
mostrando a barriga e os testículos...
Me coloquei no lugar dele, de Iaco.
Tentei imaginar como seria a minha vida sem testículos...
Eu engordaria,
minha voz ficaria fina,
não teria orgasmos,
não comeria mais ninguém,
só me apaixonaria platonicamente,
nem escreveria poesias tão apaixonadas,
nem ficaria com tanta dor de corno,
seria menos ambicioso,
talvez fosse mais feliz,
mas amigo,
menos encrenqueiro,
mas justo...
Lembrei também de um fato.
Uma vez estava em um jardim
com uma amiga que me disse:
"Que dia lindo..."
E o dia estava mesmo lindo,
mas aquela minha amiga,
perdida na beleza do dia,
não entendia
que eu nunca conseguiria ver a "beleza do dia"
tendo uma mulher tão gostosa em minha frente.
Conclusão aterradora:
os meus testículos
não me permitiam compartilhar
com a minha deliciosa amiga
a inocência do dia.
Eu preferia olhar a bunda dela
a ter que observar borboletas e afins...
Mas voltemos a Iaco,
que estava com os testículos em minhas mãos.
Não.
O destino.
O destino em minhas mãos é melhor.
Olhei para o meu amigo e disse:
- Não. Ele precisa dos testículos! Ele precisa se arriscar sim, brigar sim, e até se lenhar com isso, ora. É o preço que se paga. Não quero um gato gordo e passivo como companheiro. Quero um gato com testículos! Que perca noite mesmo. Que tenha o direito de ter orgasmos. Se perguntassem a ele: quer ficar sem as bolas? Ele ficaria indignado com a pergunta, com toda certeza. Eu acho que ele mia tanto assim por causa dos testículos! Imagine! Não! Meu gato tem que ter bolas. E sofrer as consequências disso. Eu acho até que a incerteza do raça humana na terra se deve ao fato de ter que conciliar testículos, tarde bonita, amiga gostosa, Deus e o diabo! Não posso privar Iaco dessas questões existenciais. Nasceu com bolas, morrerá com bolas. Ele já é zarolho, coitado!
Meu amigo não entendeu muito bem
a parte do testículos-tarde-bonita-amiga-gostosa-Deus-e-o-diabo.
Deixei Iaco com as bolinhas dele.
E era aparentemente muito feliz o meu gato
com os seus penduricalhos.
Mas com o passar do tempo,
ele foi ficando mais boêmio,
a vizinhança, que o conhecia,
disse que ele estava sendo visto
cada vez mais longe de casa atrás das gatas.
Eu me orgulhava e pensava:
claro, meu gato tem testículos!
Mas numa dessas,
Iaco nunca mais voltou...
Fico agora pensando
o que aconteceu com meu gato zarolho branco de bolinhas pretas...?
Acho que ao se aventurar
fora de sua área atrás das gatas
Iaco perdeu o caminho de casa ou a vida...
Culpa dos testículos.
Mas também acho que ele foi mais feliz,
do que se ficasse em casa
vendo a vida passar,
gordo e sem ovos.
Será que o espírito aventureiro se deve aos testículos?
Dá até para se pensar isso.
Acho que Iaco foi feliz, sim.
E sinto muitas saudades
dos miados e do estrabismo dele.
Mas acho que ele viveu sua natureza.
E acho que ele nasceu para isso.
Moral da estória?
Simples:
para achar a tarde bela,
para achar a vida bela,
as amigas somente amigas,
as questões findarem,
os problemas acabarem,
ou não morrer fora de casa,
basta tirar os testículos.
Não é isso...?

Alan, o Miranda.

Ps: Iaco é um dos nomes de Dionísio. Deus grego do desregramento, da transformação.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui