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cronicas-->O HITLER DE SAIAS -- 13/11/2002 - 15:58 (Ucho Haddad) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Atónito com tantos inexplicáveis aumentos, o Brasil foi sacudido pela frieza e crueldade de uma jovem apaixonada. Estereótipo da adolescente da classe-média paulistana, Suzane von Richthofen sepultou não só os pais, mas principalmente a insana teoria da pseudo-supremacia ariana. Seguindo a irresponsável receita nazista, Suzane tentou reeditar, ao seu modo, o projeto imperialista de Adolf Hitler.

Dona de uma crueldade psicótica, a adolescente planejou de forma monstruosa a morte dos pais, na tentativa de alcançar sua liberdade existencial e financeira, mesmo se tratando de uma sangrenta miragem. A atitude da adolescente apaixonada permite comparar o ser humano a uma esfinge, onde existe uma desequilibrada mistura do animal com o humano, o que lhe confere características de personalidade dual.

Na verdade, para Suzane von Richthofen tudo não passou de um acidente na busca de algo que ela ainda continua achando certo. Isso justifica as suas atitudes dentro da prisão. O seu comportamento é típico de quem não compreende o mundo. Por essa razão é que Suzane agiu com tanta naturalidade antes, durante e depois do crime.

Ao planejar o assassinato dos próprios pais, Suzane agiu de forma consciente buscando inconscientemente algo que faltava em sua vida. Assim é o ser humano. Busca sempre aquilo que lhe falta, que lhe completa. É a teoria da Física de que pólos opostos se atraem.

Suzane foi criada com fartura material e carência de limites. Acabou se apaixonando por alguém de posses reduzidas e que poderia levá-la a um limite, mesmo que o caminho fosse uma fantasiosa liberdade libertina. Alcançou o que o seu inconsciente tanto clamava. Mas por que agiu assim?

Quando o lado animalesco prevalece no ser humano, a tendência é que parta para um processo de eliminação de tudo aquilo que lhe incomode. Os seus pais tolhiam a sua liberdade, e então decidiu eliminá-los. Suzane é inteligente, calada e introspectiva. Para manter um convívio social se predispós a ruminar o que interessava e eliminou o resto. Armou durante sua existência um plano imperialista e dominador, tal e qual fez o austríaco Adolf Hitler.

Como todas as pessoas que se acham incompreendidas, Suzane mergulhou no oceano da insanidade para continuar subsistindo. É fato que Suzane precisa pagar pelo crime que cometeu, mas cercear a sua liberdade não será suficiente para recuperá-la, se é que isso é possível. A garota precisa de uma análise profunda de sua curta história de vida e um tratamento adequado.

Assim deveria ser com todos os que ingressam no universo da violência do crime, e não apenas com uma ariana de pele alva e longos cabelos loiros. Se Suzane não tem nada que a difira de um cidadão de cabelo carrapicho e pele negra, a recíproca é muito mais do que verdadeira. Ambos merecem o mesmo tipo de tratamento e atenção das autoridades.

O uso excessivo do caso por parte da mídia, na busca irresponsável por mais um ponto de audiência, irá colaborar para um desfecho diferente. Casos como esse se repetem nas grandes cidades brasileiras, cometidos na maioria das vezes por pessoas excluídas socialmente, e não têm o mesmo destaque como ao que presenciamos agora. Nenhum psiquiatra dá entrevistas para comentar a atitude de um criminoso morador da periferia.
Preso como manda a lei, o criminoso entra na longa fila de espera por um julgamento, e enquanto isso vive em condições desumanas, o que certamente irá dificultar uma possível recuperação.

Se for levada a júri popular, Suzane von Richthofen será beneficiada pela informação que invadiu e moldou a consciência dos jurados, por conta de uma sociedade elitista e conservadora. Pela condição social de Suzane, o caso será conduzido pelo lado da psicopatia ou até mesmo do crime passional. Mas os pobres, negros e favelados também amam e têm as suas necessidades e anseios. Ou será que pobre não mata por amor? Mas uma frase reflete muito bem o pensamento da sociedade ao redor do mundo.

Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, o mundo viverá em guerra.
Bob Marley

A brutalidade desse crime vai gerar uma discussão sobre a importància dos pais na formação dos filhos, principalmente no período da construção da personalidade. Mas essa necessidade é um direito, como também um dever, de todos e não de uma classe privilegiada.

A vida do ser humano é dividida pelos chamados setênios, e a personalidade do cidadão é formada no primeiro, ou seja, até os sete anos de idade. Daí em diante, outros fatores irão se agregar à história de vida de cada um, sempre dentro de períodos de sete anos. Hoje, Suzane mudou de lado. Abandonou a situação de não compreender o mundo, passando a ser incompreendida por ele. Cabe ao Estado, responsável por prover uma vida digna ao cidadão, cuidar dos outros setênios de Suzane e de todos os outros encarcerados. Entender o porque do cometimento do crime.

Caso isso não ocorra, Suzane irá buscar uma renovação em sua vida, podendo inclusive cometer o suicídio. É importante lembrar que a morte é um renascimento, e que a fantasia proporciona o encontro daquilo que se busca. Se isso acontecer, a sociedade irá respirar aliviada, deixando para trás um enorme problema. Do contrário, poderá ser libertada depois de algumas décadas de aprisionamento, terminando a sua vida da mesma forma como eliminou os pais.

Enfim, Suzane está prestes a entrar pela porta da transformação.

Será um verdadeiro Hitler de saias!
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